quinta-feira, 10 de maio de 2012

Carolas e magnatas barram imposto sobre grandes fortunas.

Em mais um capítulo da milenar série que mostra o casamento perfeito entre os interesses da elite governante com as religiões, um novo ataque, contra duas medidas voltadas à justiça social: Uma concedia benefícios previdenciários à seres humanos, classificados por religiosos como dependentes de abomináveis (homossexuais), a outra, criava faixas de cobrança de uma nova contribuição, a ser cobrada de seres com patrimônio acumulado de módicos quatro milhões para cima.

A notícia é do jornal Globo:

BRASÍLIA - Uma inusitada parceria entre o lobby da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e parlamentares católicos e evangélicos impediu nesta quarta-feira a aprovação de projeto que cria a Contribuição Social das Grandes Fortunas (CSGF), recurso que seria destinado exclusivamente para a saúde. Essa união de forças se deu na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara. O autor do pedido de verificação de quórum na comissão, uma manobra para impedir aprovação de projetos, foi do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), médico que se apresenta como defensor da saúde. Desde o início da sessão, assessores da CNI e de deputados evangélicos negociaram boicotar a reunião.
O interesse dos religiosos era evitar, mais uma vez, um projeto que tramita há anos no Congresso e que cria direitos previdenciários para dependentes de homossexuais. Este nem chegou a ser apreciado. E o da bancada da CNI era impedir a votação do projeto que taxa as grandes fortunas. E conseguiram. Parlamentares desses dois grupos esvaziaram a sessão. O projeto que taxa as grandes fortunas tem como autor o deputado Doutor Aluizio Júnior (PV-RJ). Pela proposta, são criadas nove faixas de contribuição a partir de acúmulo de patrimônio de R$ 4 milhões e a última faixa é de acima de R$ 115 milhões. O projeto atinge 38 mil brasileiros, com patrimônios que variam nessas faixas.
- São R$ 14 bilhões a mais para a saúde por ano. Desse total, R$ 10 bilhões viriam de 600 pessoas, mais afortunadas do país. Vamos insistir com o projeto - disse Aluizio Júnior.
A relatora do projeto foi a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que deu parecer favorável. O projeto das grandes fortunas chegou a ser votado e 14 parlamentares votaram sim e três, não. Foi nesse momento que Perondi pediu a verificação de quórum e eram precisos 19 votantes ao todo. E tinham 17. Faltaram apenas dois para a matéria ser considerada aprovada.
Quando começou a votação, parlamentares do PSDB e do DEM deixaram o plenário. O deputado Doutor Paulo César (PSD-RJ) fez um parecer contrário ao de Jandira e argumentou que taxar grandes fortunas iria espantar os investimentos e empresários levariam dinheiro para fora do país. Mas a derrota, no final, pode ser atribuída a dois parlamentares evangélicos. Um deles, Pastor Eurico (PSB-PE) chegou a fazer um discurso a favor da taxação das grandes fortunas e afirmou até que a Câmara está cheio de lobbies de interesses. Chegou a ser aplaudido, mas, na hora de votar, atendeu ao apelo da parceria CNI-religiosos, e deixou o plenário. Nem sequer votou. Outro deputado, Marco Feliciano (PSC-SP), defensor dos interesses religiosos deixou o plenário quando se inicia a votação.
O advogado Paulo Fernando Melo, um assessor das bancadas religiosas e que atuou na parceria com a CNI, comemorou o resultado.
- Tinham duas matérias polêmicas na pauta (pensão para gays e taxação de grandes fortunas). No final, a articulação desses dois setores, que é regimental, deu certo e os dois lados saíram vitoriosos - disse Paulo Fernando.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Veja no que deu.


Por Juremir Machado da Silva

Caiu a casa. Aquela que se considerava a última flor da ética extinguiu-se com uma conversa telefônica interceptada. A revista Veja, órgão quase oficial da direita brasileira, desabou no último domingo à noite. A reportagem do "Domingo Espetacular", da Rede Record, soou como um dobrar de sinos para uma publicação acostumada a ditar as regras, manipular e acabar com reputações nem sempre com razão. Aos poucos, a revista que ajudou a revelar o mensalão petista atolou-se numa cegueira total.

Quem viu a reportagem ficou estarrecido. Carlinhos Cachoeira, o gângster mais famoso do momento, aparece no papel de editor, diretor de redação, publisher. Dá ordens. Manda publicar uma notinha. Define a sessão. É para sair no "Radar", espaço assinado por Lauro Jardim. Raramente se viu neste país de imprensa lambedora de botas militares ou de sapatos luxuosos de civis uma situação tão humilhante. O bicheiro, o contraventor, o larápio, o bandido estabelece o que deve ser publicado, quando e onde, assim, sem tirar nem pôr, na pretensamente mais importante e independente revista semanal brasileira. De babar a cueca.

Nestes meus 50 anos, vi escândalos de políticos de todos os tipos, sempre mais vergonhosos, sempre mais acachapantes, mas nunca tinha visto um escândalo de mídia tão avassalador. Sou obrigado a buscar adjetivos no fundo do poço para descrever essa situação inusitada. Veja saltou direto do jornalismo com suas oscilações e limites para a condição de capacho. Uma coisa é usar fontes comprometidas com o crime, outra bem diferente é servir aos interesses de criminosos plantadores de notícias, de intrigas e malfeitorias. Um limite foi ultrapassado.

Veja praticou o crime simbolicamente mais repugnante: o incesto. Nem mesmo depois de aberta a caixa de Pandora teve a dignidade de publicar uma capa detonando Cachoeira e seu cúmplice Demóstenes Torres. Preferiu continuar abraçada com o mal. O jornalista Policarpo Jr. maculou uma carreira cheia de troféus. Agora se sabe como se produzem certas medalhas da mídia nacional. Se estivéssemos no tempo do jornalismo panfletário do final do século XIX, eu chamaria Veja de rastaquera, rameira, vadia. Não farei isso. Não tenho direito de ofender as vadias, que lutam arduamente e honestamente pelo pão.

Não é fácil ser um profissional sério. Ter de ler a revista Veja toda semana provoca diarreia, vômito, tontura e dor na coluna. Como suportar aqueles textos falaciosos sobre novas dietas e aquele eterno jogo de compadres incensando amiguinhos e explodindo adversários? Como levar a sério aquelas verborragias ideológicas pretensamente modernas? Veja, sejamos justos, tem qualidades; nada melhor para aplacar o medo da broca num consultório de dentista. Contra o pavor, o horror. Outro aspecto indiscutível é a qualidade do papel. Quem tiver alguma reclamação sobre a revista escreva para Carlos Cachoeira.