terça-feira, 2 de novembro de 2010

Efeitos da "tese global" de um país dividido.

Manifestações preconceituosas, racistas e de apologia ao crime tiveram destaque após a eleição da Presidente Dilma Roussef.

A desinformação difundida pelos principais veículos da imprensa corporativa (que não engoliram nova vitória do PT), de que a região nordeste deu a vitória à Dilma deu vazão à uma enxurrada de manifestações agressivas e criminosas contra os nordestinos.

A Rede Globo apresentou um "mapa eleitoral" deformado, pintando o Brasil de azul e vermelho, representando a vitória dos candidatos à presidência nos estados, ignorando que em alguns desses, essas vitórias se deram, no que os institutos de pesquisa chamam de "margem de erro" e mesmo assim foram pintados de azul ou vermelho, criando essa falsa atmosfera de "país dividido" (Sul e Sudeste de Serra, Norte e Nordeste de Dilma).

O mapa elaborado pelo jornal Estado de São Paulo, que pode ser visto aqui, comprova a levianidade e falsidade da tese do "país dividido".

O resultado dessa malograda tese foi visto no microblog Twitter ontem.

Uma estudante de direito, do estado de São Paulo, disparou o mais cruel ataque, solicitando inclusive, o assassinato de nordestinos: "Nordestisto (sic) não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!", e continuou: "Afunda Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171."

Após a reação, com a hastag #orgulhodesernordestino, e a repercussão negativa de suas tresloucadas manifestações, a estudante, inicialmente desculpou-se, para em seguida cancelar todos os seus perfis.

O jornal Diário de Pernambuco relata a história do ataque preconceituoso ao povo nordestino (texto abaixo):
Clique na imagem para ampliar.
Uma declaração preconceituosa e baseada em dados imprecisos postada no Twitter por uma estudante de direito de São Paulo causou grande polêmica nas redes sociais. A aluna atribuiu aos nordestinos a derrota de José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais. O embate regionalista tomou conta das discussões no microblog, com reações imediatas contra a infeliz frase e também com comentários de moradores das regiões Sul e Sudeste.

"Nordestisto (sic) não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!", escreveu a estudante, durante a madrugada. Ela também usou o Facebook para mostrar a indignação com a vitória de Dilma Rousseff (PT) e culpar o povo do Nordeste pela derrota. "Afunda Brasil. Deem direito de voto pros nordestinos e afundem o país de quem trabalha pra sustentar vagabundos que fazem filhos pra ganhar o bolsa 171", postou.

O comentário repercutiu tanto, que, ao meio-dia de ontem, o hashtag #nordestisto - escrita de forma incorreta pela estudante - passou a ser a terceira palavra mais comentada pelos usuários do microblog. A guerra regional fez outros termos serem mais acessados ainda: "orgulhodesernordestino" e "norte/nordeste e sul/sudeste". Quando o caso começou a repercutir, a estudante publicou mensagens se desculpando. Mais tarde, cancelou seus perfis.

As declarações preconceituosas podem resultar na prisão dos autores das frases. De acordo com a legislação brasileira, crimes contra a procedência nacional preveem pena de até três anos. Um jurista ouvido pela reportagem explicou que as redes sociais são consideradas meios de comunicação. "Qualquer informação ofensiva à honra ou preconceituosa é suscetível de apuração e apenação, como em qualquer outro veículo de comunicação", explicou.

Já o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que há um preconceito muito forte contra o Nordeste em estados das regiões Sul e Sudeste. "A pessoa deveria procurar outras razões para a derrota do Serra, porque, no Brasil, o voto de cada umtem peso igual. Se a eleição brasileira fosse como nos Estados Unidos, onde os votos são divididos por estado, de acordo com o número de delegados, aí sim poderia se atribuir a derrota a um estado, mas jamais com o uso do proconceito", comparou o cientista.

A polêmica foi criada a partir de uma falsa ideia de que os votos da região Nordeste teriam sido os responsáveis pela eleição de Dilma. Levantamento feito pelo Diario/Correio Braziliense, com base nos resultados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que a candidata do PT venceria o pleito mesmo que fossem considerados apenas os votos das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. No cenário em que os votos do Nordeste não são contabilizados, Dilma ficaria com 1,3 milhão de votos a mais que Serra. Até mesmo se fossem contabilizados somente os votos do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a petista sairia vencedora, com cerca de 300 mil votos à frente do tucano.

Embora a presidente eleita tenha sido superada pelo adversário em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, ela venceu no segundo e terceiro estados de maior eleitorado, Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente. No Nordeste, Dilma superou Serra em mais de 10 milhões de votos. Na contagem oficial do TSE, ela atingiu 12 milhões de votos a mais que o concorrente em todo o país.

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