sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Panfletos apócrifos


É comum, especialmente em cidades interioranas, em anos eleitorais ou mesmo "em tempos de paz", a distribuição de panfletinhos anônimos, com palavreado de baixo calão e acusações, geralmente de conteúdo sexual a figuras de expressão política na "paróquia".
Lembro-me de alguns, que circulavam pela madrugada, postos por debaixo das portas, em caixas de correios, grudados em postes, jogados sobre os muros, onde pessoas destacadas, ou que tinham alguma intenção de disputar algum posto público, apareciam em fotomontagens grosseiras, entre diversos órgãos sexuais, acusados de promiscuidade, pedofilia e uma série de absurdos, obviamente, sem nenhum fundamento ou evidência.

Causavam um certo furor, no dia da distribuição, e pautava "conversas de buteco" por alguns dias, mas nunca surtiam o efeito esperado por seus "autores".

Lembrei-me desse panfletos, ao ler no blog o Escrevinhador, de Rodrigo Vianna, que mais um panfleto desse tipo foi elaborado, mas dessa vez assinado, exposto de forma meio discreta, no corpo de um texto, de três páginas, que atacava o filme "Lula, Filho do Brasil".

Uma acusação leve, pouca coisa, mais ou menos isso:

O Presidente da República teria "currado" um prisioneiro, durante o período em que esteve preso pela última ditadura.

Assim, de forma discreta, ouvindo, e em seguida publicando um relato que foi imediatamente desmentido, como relata o texto abaixo, que o Jornalão da família Frias, Folha de São Paulo, atingiu o nível de um daqueles panfletinhos, de papel A 4, jogado sobre os muros, ou enfiado debaixo das portas.

Pensando melhor, ao chamar o regime de seus parceiros de "Ditabranda", criar uma falsa ficha policial da Ministra Dilma Roussef, entre outras "manifestações criativas", já não havia chegado a esse nível?

Abaixo o texto do Escrevinhador:

Esgoto escorre nas páginas do jornal de "Otavinho"; outro que usa diminutivo, "Cesinha", ajudou a fazer o serviço

Por coincidência, o artigo em que "Cesinha" (agora compreendo o diminutivo que ele carrega há tanto tempo no nome) conta essa história sobre Lula foi publicado (advinhem?) justamente na "Folha".
Hum...
Há duas semanas, publiquei aqui um texto em que perguntava por que o filho de FHC apareceu só agora - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/teorias-por-que-fhc-reconheceu-o-filho-so-agora.
Levantei algumas hipóteses. A terceira era: 3) Fator denúncias contra o PT. Essa é a teoria já exposta no blog do Eduardo Guimarães - http://edu.guim.blog.uol.com.br/. A idéia é que a (ex) grande imprensa já teria na mão dossiês contra Dilma. Revelar, agora, o filho fora do casamento de FHC seria uma forma de mostrar "isenção". Na hora que aparecesse denúncia contra Dilma, ninguém poderia acusar a mídia de perseguir o PT. A diferença é que Dilma é candidata em 2010, e FHC só teve o filho revelado 8 anos depois de sair do poder.
Errei num detalhe: o foco não era Dilma, mas Lula mesmo.
A história sobre o filho de FHC foi uma espécie de antídoto preventivo. Ao chamar Lula de "molestador sexual", usando (corajosamente, característica dos Frias) um terceiro pra fazer o ataque, a "Folha" não pode ser acusada de "parcialidade", afinal publicou também a informação sobre o tucano.
Hum...
Detalhe: o filho de FHC existe. Mora no exterior. A revista "Caros Amigos" contou há dez anos a história completa.
Já a história do "Cesinha" é só uma história. Onde está o rapaz que teria sido molestado por Lula em 1980? Vocês acham que esse rapaz (ou um rapaz qualquer que cumpra o papel) vai aparecer nas páginas da "Folha" ou da "Veja"? Ah, a campanha de 2010 será linda.
Outro detalhe: a "Folha" ignorou a informação publicada semana passada, por Cláudio Humberto, de que FHC teria tido um outro filho fora do casamento, com uma empregada da família - http://www.rodrigovianna.com.br/plenos-poderes/claudio-humberto-fhc-teve-outro-filho-por-fora-com-a-empregada-esse-ele-reconheceu.
Mas a "Folha" abriu hoje três páginas para falar (mal) do filme sobre Lula: "O Filho do Brasil" (FHC, parece, também ele é um especialista em "filhos do Brasil").
Quem conhece um pouco como funciona o jornalismo sabe que o objetivo das três páginas era dar "peso" para a informação que apareceu ali pelo meio do artigo de "Cesinha". Nada mais interessava aos Frias, só a informação sobre o Lula "molestador".
Ora, uma informação dessas (se verdadeira) mereceria manchete, não acham? Por que foi publicada desse jeito, no meio de um artigo?
Porque uma manchete deixaria tudo muito explícito. O artigo na "Folha" é só parte do script, tenham certeza...
De outro lado, uma informação dessas, se falsa, deveria ir parar no lixo, no esgoto...
Bem, na verdade, foi o que aconteceu. Há algum tempo é esgoto jornalístico o que corre pelas páginas do jornal da família Frias. Nessa vala mal-cheirosa cabem: ficha falsa de ministra, editorial louvando a "ditabranda", ataques descabidos a professores respeitáveis (Benevides e Comparato) que criticaram a "ditabrabanda" da "Folha".
Último detalhe: na edição desta sexta-feira, a "Folha" simplesmente "escondeu" a notícia sobre denúncia do Ministério Público Federal. Os procuradores Weichert e Favero querem que Paulo Maluf, Romeu Tuma e outras autoridades da época da ditadura sejam responsabilizados pelo crime de ocultação de cadáver - http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=23189. A notícia (no jornal) apareceu "perdida" lá pela página 13, sem destaque nenhum, ao lado de um anúncio de turismo...
A "Folha" esquece os crimes da ditadura da qual foi parceira. Crimes concretos, abomináveis. Há mortos, desaparecidos. Há impunidade daqueles que foram sócios da "Folha" no apoio à ditadura.
A "Folha" não abre espaço para que Ivan Seixar publique as cartas contando o que aconteceu com o pai dele na OBAN (Operação Bandeirante) durante a ditadura - http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/por-que-a-folha-nao-publica-cartas-de-ivan-seixas.
Mas a "Folha" abre espaço para o "Cesinha" fazer o serviço sujo.
A "Folha" já abriu manchete para o sequestro (de Delfim) que não houve (o objetivo da matéria era atingir Dilma, lembram?). Agora, abre discretamente espaço para o "ataque sexual" que não houve.
Sobre os crimes de verdade, sobre os mortos e desaparecidos, sobre os torturadores, nenhum pio. Até porque a "Folha" teria que explicar porque os carros do jornal eram sempre vistos em frente à OBAN (centro de torturas em São Paulo).
Curiosamente, o "Cesinha" conta no tal artigo desta sexta-feira que escapou de ser abusado sexualmente por presos comuns quando esteve preso durante a ditadura. Ainda bem. O "Cesinha" foi vítima dos crimes abomináveis cometidos naquela época: ficou preso, incomunicável. Era um jovem de 16/17 anos...
Mas tantos anos depois, "Cesinha", você foi usado (e abusado) pela mesma elite que apoiou a ditadura. E, dessa vez, parece que você gostou.
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P.S.:
PAULO DE TARSO DESMENTE "CESINHA"
Uma das pessoas que teriam "testemunhado", em 1994, a tal conversa (em que Lula teria narrado o episódio do "abuso") é Paulo de Tarso Venceslau. Ele foi militante do PT, rompeu com o partido, e tem críticas pesadíssimas ao setor que ainda hoje domina as principais instâncias partidárias. Veja aqui um exemplo das denúncias que Paulo de Tarso fez ao PT - http://www.terra.com.br/istoe/politica/144430.htm
Pois bem, a "Folha" não "lembrou" de ouvir o Paulo de Tarso sobre o caso do "abuso".
Ele, que teria todos os motivos para "bater" no PT e em Lula, acaba de divulgar uma nota, em que repudia e desmente o artiguinho do "Cesinha".
A nota está aqui, no site do Azenha - http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/a-nota-de-paulo-de-tarso/.
Depois dessa, alguém acha que há motivo pra seguir assinando um jornal como a "Folha"?
Acho que a "Folha" será "currada" pelos leitores.

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