quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O golpe da pesquisa que quer equivaler-se a um recenceamento

Tive a oportunidade de trabalhar no IBGE, durante a realização do censo agropecuário 2006. Exercia a função de supervisor, e como tal, pude verificar, em campo, a forma como os dados foram coletados.
A verificação foi feita em todos os estabelecimentos agropecuários. Não houve compilação de dados por amostragem.
O resultado só poderia ser o mais fiel retrato da realidade desses, da forma como foi amplamente divulgado em todos os meios de comunicação do país.
Poucos dias após a divulgação desses dados, que apontaram a agricultura familiar como responsável por 75% da produção de alimentos no país, uma pesquisa, por amostragem, encomendada pelo CNA (Confederação Nacional da Agricultura), junto ao IBOPE, revela dados totalmente diferentes.
O interessante nisso, foi a tentativa de equiparar as duas pesquisas: O censo do IBGE, entrevistando a totalidade dos produtores, com uma amostragem distorcida, de um universo de 1000 entrevistados, que acabou por anunciar a supremacia do agronegócio sobre a agricultura familiar.
Mil entrevistas valendo o mesmo que a totalidade dos dados coletados, já é um enorme contracenso.
O mais interessante, é quando paramos para comparar os números do IBGE com o resultado da pesquisa do IBOPE. Foi o que fez Flávio Luiz Sartori, em seu blog, no texto que reproduzo abaixo:

ANALISE DOS NÚMEROS DA PESQUISA IBOPE / CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA
Desde o primeiro momento em que ouvi a notícia ontem à noite sobre essa pesquisa do IBOPE para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a CNA, com alguns resultados, fiquei pensando comigo mesmo em silêncio: "Só pode ter manipulação na amostragem para ser possivel chegar a um resultado como esse, até quando a opinião pública, ou melhor, ainda parte significativa dela, será enganada?"
Durante o dia de hoje arrumei o tempo que não tenho porque sou um trabalhador a procura de um lugar melhor ao sol e fui a procura, primeiro do relatório completo dessa pesquisa IBOPE/CNA, depois dos números do IBGE referentes ao Censo Agropecuário de 2006 no item sobre a Agricultura Familiar, de acordo com a Lei 11.326, que estabelece os princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.
De acordo com estatisticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísca, o IBGE, no qual eu ja tive a honra de trabalhar em censos, a quantidade de estabelecimentos da Agricultura Familiar em 2006 por Região do Brasil é a seguinte:
De acordo com o Relatório JOB 1221 do IBOPE da Pesquisa de Opinião Pública Sobre Assentamentos Rurais realizada para a CNA, as cotas de entrevistas por Regiões do Brasil foram as seguinte:
Como se pode observar a manipulação dos números é descarada, logo de cara se vê que a pesquisa não entrevistou nenhum assentado na Região Sul do Brasil, que históricamente tem um dos melhores padrões de vida no Brasil. Por outro lado foram feitas 25% das entrevistas na Região Norte, enquanto que pelos números do IBGE esta região tem peso de 9,5% no total de assentados do Brasil. Também foram entrevistados 35% de assentados nordestinos, enquanto que a Região tem peso, de acordo com números de IBGE de 50,1% de assentados e para encerrar, foram entrevistados 22,5% de assentados pelo IBOPE na Região Centro Oeste, enquanto que ela tem peso de 5% de assentados em relação a todo Brasil. A única Região onde os números ficaram próximos foi a Sudoeste com 16% de assentados pelos números do IBGE e 17,5% de entrevistas do IBOPE.
De acordo com números do IBGE de 2006, as estatísticas da agricultura familiar por estado são as seguintes:

O IBOPE realizou entrevistas nos seguintes estados com os seguintes números, de acordo com seu próprio relatório:

Fiz questão de detalhar os números por estado para completar o trabalho, se você meu caro internalta quizer ter acesso as tabelas do IBGE é só acessa ao seguinte endereço:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Agropecuario_2006/
Os números estão sem os cálculos por porcentagem, que foram trabalhados mim mesmo, mas são os mesmos, basta abrir as tabelas e conferir.
Não existe na página do IBGE nenhum número posterior aos dados do Censo Agropecuário de 2006, depois, os números de assentamentos feitos até 2008 não ultrapassam as diferenças registradas nesta analise.
Voces também poderão acessar ao relatório do IBOPE na no seguinte endereço do CNA:
http://www.canaldoprodutor.com.br/noticias/confira-os-resultados-da-pesquisa-ibope-nos-assentamentos-rurais-consolidados-da-reforma-ag
LEIAM E TIREM SUAS CONCLUSÕES PARA O BEM DO BRASIL.

Mais sobre a evidente manipulação pode ser visto aqui e aqui.

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