sábado, 7 de março de 2009

No olho das ruas, por Juremir Machado da Silva.

Certas nuanças do comportamento humano me fascinam. Eu custo a crer que algumas pessoas resolvam mentir correndo o risco de desmoralização pública. É por isso que acredito em Luciana Genro, Roberto Robaina e Pedro Ruas quando eles dizem ter visto um vídeo comprometedor para o governo de Yeda Crusius. Tive uma longa conversa com o vereador Pedro Ruas sobre isso. Eu disse a ele o óbvio: se as provas anunciadas pelo PSol existirem, cai o governo. Se não existirem ou nunca aparecerem, cai o PSol. Se bem que provas semelhantes não derrubaram Luiz Inácio do Planalto. Pedro Ruas não hesitou um segundo: viu, em Curitiba, um vídeo gravado por Lair Ferst com parte de 28 pontos relativos a supostos ilícitos praticados por pessoas ligadas à campanha e ao governo de Yeda Crusius.

É um jogo com lances jurídicos palpitantes. O PSol, segundo Ruas, jamais disse estar de posse das provas. Mas indicou onde estão: no Ministério Público Federal. Não disse tampouco que haveria um processo contra Aod Cunha. Ainda. Limitou-se a indicar que os tais vídeos vinculariam Aod ao caixa 2 da campanha de Yeda. O jogo jurídico é curioso. No fundo, o melhor para o PSol seria um processo movido por um dos acusados. Isso permitiria ao PSol, na condição de réu, requerer acesso às provas (os vídeos) em poder do MPF. Ninguém, no entanto, apesar das acusações gravíssimas, parece ter pressa, indignação ou vontade de recorrer à Justiça. Estômago de político é diferente. Será que é justamente para não dar ao PSol acesso legal aos vídeos? Que mundo estranho! O acusador garante ter visto provas que podem provocar um terremoto político sem precedentes. As provas estariam com os representantes da lei. Ah, bom! Então serão mostradas logo? Não se sabe. Aí é que pode morar o problema.

Pedro Ruas insiste num ponto: nenhum dos acusados negou literalmente as acusações. Nenhum deles teria dito algo simples e direto: é tudo mentira. Nem a governadora. Lair Ferst, o homem das gravações de mais de oito horas, resumidas num material explosivo de menos de 60 minutos, teria sido beneficiado pelo mecanismo da delação premiada, o que o aliviaria em seis anos de prisão. Ruas teria visto o documento da delação premiada, homologado judicialmente, mostrado pelo interessado. Olhei Ruas nos olhos. Perguntei se estava tranquilo. Quis saber se ele pegava no sono e dormia em paz. Vi um homem seguro. Admitiu que tranquilidade é uma palavra excessiva em meio a um furacão. Em contrapartida, foi categórico: as provas existem, ele as viu e agora é só uma questão de tempo. O tempo da Justiça, porém, não é o da urgência da vida.

Pode demorar muito. O argumento principal de Ruas é para mim o mais simples de todos: alguém que se respeite e tenha a perder o seu principal capital, a credibilidade, chamaria uma coletiva de imprensa para revelar ter visto um vídeo que jamais viu e que talvez nem exista? Não seria verossímil nem em novela das 8h. Nesse xadrez jurídico e político, uma pergunta de leigo pode fazer muito sentido: caixa 2, mesmo comprovado, é suficiente, neste Brasil hipermoderno, para derrubar um governo? As cassações de Cássio Cunha Lima e Jackson Lago por crime eleitoral dão o que pensar. Se Ruas estiver mentindo, merecerá um Oscar de interpretação. Isso me faz achar que o governo terá ainda de dar muitas explicações.

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