terça-feira, 30 de setembro de 2008
Bancários fazem paralisação de 24 horas em 22 capitais
Os bancários fizeram paralisação de 24 horas nesta terça-feira (30) em 22 capitais e nas bases territoriais de mais 126 sindicatos da categoria em todo o país, depois de rejeitarem, em assembléias, a proposta de reajuste de 7,5% apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) na semana passada.
Os bancários de Rio de Janeiro, Brasília e Salvador decidiram em assembléias realizadas nesta terça à noite continuar a greve por tempo indeterminado. Em Porto Alegre, a decisão de continuar a paralisação foi apenas dos empregados da Caixa Econômica Federal. Novas assembléias serão realizadas no final do dia para avaliar o movimento.
"A adesão à paralisação foi alta em todo o país, cumprindo o objetivo do Comando Nacional dos Bancários de aquecer os motores e advertir os bancos de que a categoria está pronta para uma greve por tempo indeterminado caso eles não apresentem nova proposta que atenda as reivindicações", avalia Vagner Freitas, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) e coordenador do Comando Nacional.
Para Vagner, a participação dos bancários na paralisação só não foi maior em razão da truculência dos bancos e da polícia militar em vários Estados. "É preciso denunciar a extrema facilidade com que eles conseguem do Judiciário instrumentos jurídicos, principalmente o interdito proibitório, para coibir o direito de greve que a Constituição Federal assegura aos trabalhadores. Existe um verdadeiro conluio entre eles", critica o presidente da Contraf/CUT.
O Comando Nacional dos Bancários reúne-se nesta quarta-feira, 1º de outubro, em São Paulo, para avaliar a mobilização e a continuidade da campanha salarial. "Agora cabe à Fenaban nos chamar para apresentar nova proposta. Em caso contrário, vamos propor novas assembléias no dia 7 para aprovar a greve por tempo indeterminado a partir do dia 8 de outubro", afirma Vagner Freitas.
Fonte Contraf -CUT
Confira aqui as cidades que aderiram a paralisação no Rio Grande do Sul.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
"O novo jeito de adquirir imóveis".
Agora surgem mais denúncias, de membros de seu governo, e deputados aliados que estariam adquirindo imóveis com dinheiro dos cofres do Piratini e de prefeituras aliadas.
Enquanto a choldra sofre nas filas dos bancos, na vã ilusão de conseguir um financiamento, esses ilustres cidadãos lucupletam-se, comprando mansões e apartamentos luxuosos, totalmente incompatíveis com suas declarações de renda e bens.
Abaixo algumas fotos de imóveis que podemos esta ajudando a pagar:
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Diário Gauche: Navalha de Occam
Certa vez, no muniocípio de São Luiz Gonzaga, um amigo e eu fomos a um famoso "buteco", tomar uma "pinga". Era período eleitoral e o debate político tomou conta do ambiente.
Um cliente do bar manifestou-se de forma muito reacionária, altamente afetado pela linha de pensamento dominante, defendendo propriedade privada, livre iniciativa e "contestando aqueles que contestam".
Minha surpresa foi a manifestação do dono do bar, um sujeito calmo e muito paciente, que não satisfeito com as baboseiras que o cliente proferia, passou a explicar como o mundo funciona. Sua dialética era impecável, seus exemplos muito claros e objetivos. Chegou a explicar conceitos marxistas, exemplificando com uma caixa de palitos. Explicava:
- "Digamos que esses palitos sejam a riqueza do mundo. O que acontece se eu resolvo me apoderar da maior parte dela?" ele mesmo respondeu, enquanto o cliente coçava a cabeça, confuso: - "Sobra muito pouco pra dividir entre os demais."
Achei aquilo fantástico, explicar conceitos complexos, para os quais usávamos de uma "verborragia" assustadora, o dono do "buteco", de forma muito simples, fazia seu cliente compreender aquilo que, em vão tentávamos explicar.
Lembrei desse fato ao ler o texto abaixo, que extraí do Blog Diário Gauche, e que também, de forma muito simples, explica "complexos temas", no caso, a atual crise do capitalismo.
Os recebíveis da Vila Carrapato
Recebi este e-mail, hoje:
O seu Biu tem um bar na Vila Carrapato, e decide que vai vender pinga “na caderneta” aos seus leais fregueses, todos bebuns, quase todos desempregados.
Porque decide vender a crédito, ele pode aumentar um pouquinho o preço da dose da branquinha (a diferença é o sobrepreço que os pinguços pagam pelo crédito).
O gerente do banco do seu Biu, um ousado administrador formado em curso de Emibiêi, decide que as cadernetas das dívidas do bar constituem, afinal, um ativo recebível, e começa a adiantar dinheiro ao estabelecimento, tendo o pindura dos pinguços como garantia.
Uns seis zécutivos de bancos, mais adiante, lastreiam os tais recebíveis do banco, e os transformam em CDB, CDO, CCD, UTI, PQP, OVNI, SOS ou qualquer outro acrônimo financeiro que ninguém sabe exatamente o que quer dizer.
Esses adicionais instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, na BM&F, cujo lastro inicial todo mundo desconhece (as tais cadernetas do seu Biu).
Esses derivativos estão sendo negociados como se fossem títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados de 73 países.
Até que alguém descobre que os bebuns da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e o bar do seu Biu vai à falência.
E toda a cadeia sifu.
Por Cristóvão Feil
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Comando Nacional dos Bancários recusa proposta de reajuste da Fenaban e indica greve
Na rodada de hoje, das negociações coletivas da Fenaban com o Comando Nacional dos Bancários, foi apresentada a proposta patronal de reajuste, que fixou índice de 7,5%.
O Comando Nacional rejeitou o índice, que não cobre nem mesmo as perdas com a inflação, que, de acordo com o DIEESE, foi de 8,56%, acumulada até o corrente mês. foi fixada a data de 29 de Setembro para a realização de Assembléia Nacional, a qual a proposta deve ser rejeitada, e votado o indicativo de greve.
Com lucros acumulados na média de 60% nos últimos períodos, a Fenaban sinaliza com uma proposta de reajuste muito inferior a de setores que não tiveram tamanhos ganhos de capital, como o dos metalúrgicos.
Segue abaixo o e-mail que recebi da CONTRAF-CUT:
Fenaban propõe 7,5%. Comando Nacional rejeita e indica greve de 24 horas dia 30
Na rodada de negociação realizada com o Comando Nacional dos Bancários nesta quarta-feira 24, a Fenaban apresentou a proposta de reajuste de 7,5% (para uma inflação de 7,15% medida pelo INPC) sobre os salários e sobre todas as verbas salariais, inclusive a PLR. O Comando rejeitou a proposta no ato da apresentação, por considerá-la muito abaixo das expectativas da categoria. E orienta os sindicatos a realizarem assembléias até o dia 29 para rejeitar a proposta e aprovar greve de 24 horas no dia 30
"Deixamos claro que a proposta é inaceitável para os bancários porque está muito distante das reivindicações da categoria e não condiz com os resultados extraordinários dos bancos e nem com as propostas que outros setores empresariais, menos rentáveis que os bancos, estão fazendo a seus trabalhadores", diz Vagner Freitas, presidente da Contraf/CUT e coordenador do Comando Nacional.
Os representantes dos bancários reiteraram a necessidade de uma ampliação do aumento real, da valorização dos pisos salariais, da melhoria do vale-alimentação e de aumento e simplificação da PLR. Disseram que a proposta é inferior ao acordo do ano passado e insistiram para que os negociadores dos banqueiros apresentassem uma nova proposta para que pudesse ser submetida às assembléias da categoria. Mas não houve avanço.
"Os bancos já haviam rejeitado quase todas as nossas reivindicações sobre saúde e condições de trabalho, emprego, igualdade de oportunidades e segurança. Eles estão apostando no confronto. Está claro que para fazer os banqueiros avançarem nas negociações só com greve. E é isso que temos de preparar", acrescenta Vagner Freitas
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Paulo Freire X Veja Golpista
O texto abaixo, que recebi do acadêmico Everton Gerhard, de Santiago. Trata-se da resposta de Ana Maria Araújo Freire, historiadora, professora universitária e viúva de Paulo Freire, ao texto publicado no panfleto que insiste em intitular-se revista, Veja, no qual atacam de forma indiscriminada a Pedagogia Libertadora desse.
A matéria, reflete o caráter tecnicista e baseado em valores mercantis do "panfleto direitoso que insiste em ser chamado de revista". O texto da revista ultrapassa os limites do absurdo, do ridículo, do comprometimento com forças reacionárias que pagam por esses textos.
Abaixo o texto que recebi:
VIÚVA DE PAULO FREIRE ESCREVE CARTA DE REPÚDIO À REVISTA VEJA
'Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa, que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado'.
Curiosamente, entre os especialistas consultados está o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. Ele é o autor de um artigo publicado na Folha, em 1990, cujo título é Ceausescu no Ibirapuera. Sem citar o Paulo Freire, ele fala do Paulo Freire. É uma tática de agredir sem assumir. Na época Paulo, era secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina.
Diante disso a viúva de Paulo Freire, Nita, escreveu a seguinte carta de repúdio:
'Como educadora, historiadora, ex-professora da PUC e da Cátedra Paulo Freire e viúva do maior educador brasileiro PAULO FREIRE -- e um dos maiores de toda a história da humanidade --, quero registrar minha mais profunda indignação e repúdio ao tipo de jornalismo, que, a cada semana a revista VEJA oferece às pessoas ingênuas ou mal intencionadas de nosso país. Não a leio por princípio, mas ouço comentários sobre sua postura danosa através do jornalismo crítico. Não proclama sua opção em favor dos poderosos e endinheirados da direita, mas , camufladamente, age em nome do reacionarismo desta.
Esta vem sendo a constante desta revista desde longa data: enodoar pessoas as quais todos nós brasileiros deveríamos nos orgulhar. Paulo, que dedicou seus 75 anos de vida lutando por um Brasil melhor, mais bonito e mais justo, não é o único alvo deles. Nem esta é a primeira vez que o atacam. Quando da morte de meu marido, em 1997, o obituário da revista em questão não lamentou a sua morte, como fizeram todos os outros órgãos da imprensa escrita, falada e televisiva do mundo, apenas reproduziu parte de críticas anteriores a ele feitas.
A matéria publicada no n. 2074, de 20/08/08, conta, lamentavelmente com o apoio do filósofo Roberto Romano que escreve sobre ética, certamente em favor da ética do mercado, contra a ética da vida criada por Paulo. Esta não é, aliás, sua primeira investida sobre alguém que é conhecido no mundo por sua conduta ética verdadeiramente humanista.
Inadmissivelmente, a matéria é elaborada por duas mulheres, que, certamente para se sentirem e serem parceiras do 'filósofo' e aceitas pelos neoliberais desvirtuam o papel do feminino na sociedade brasileira atual. Com linguagem grosseira, rasteira e irresponsável, elas se filiam à mesma linha de opção política do primeiro, falam em favor da ética do mercado, que tem como premissa miserabilizar os mais pobres e os mais fracos do mundo, embora para desgosto deles, estamos conseguindo, no Brasil, superar esse sonho macabro reacionário.
Superação realizada não só pela política federal de extinção da pobreza, mas , sobretudo pelo trabalho de meu marido – na qual esta política de distribuição da renda se baseou - que demonstrou ao mundo que todos e todas somos sujeitos da história e não apenas objeto dela. Nas 12 páginas, nas quais proliferam um civismo às avessas e a má apreensão da realidade, os participantes e as autoras da matéria dão continuidade às práticas autoritárias, fascistas, retrógradas da cata às bruxas dos anos 50 e da ótica de subversão encontrada em todo ato humanista no nefasto período da Ditadura Militar.
Para satisfazer parte da elite inescrupulosa e de uma classe média brasileira medíocre que tem a Veja como seu 'Norte' e 'Bíblia', esta matéria revela quase tão somente temerem as idéias de um homem humilde, que conheceu a fome dos nordestinos, e que na sua altivez e dignidade restaurou a esperança no Brasil. Apavorada com o que Paulo plantou, com sacrifício e inteligência, a Veja quer torná-lo insignificante e os e as que a fazem vendendo a sua força de trabalho, pensam que podem a qualquer custo, eliminar do espaço escolar o que há de mais importante na educação das crianças, jovens e adultos: o pensar e a formação da cidadania de todas as pessoas de nosso país, independentemente de sua classe social, etnia, gênero, idade ou religião.
Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de concluir que os pais, alunos e educadores escutaram a voz de Paulo, a validando e praticando. Portanto, a sociedade brasileira está no caminho certo para a construção da autêntica democracia. Querendo diminuí-lo e ofendê-lo, contraditoriamente a revista Veja nos dá o direito de proclamar que Paulo Freire Vive!
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Ana Maria Araújo Freire'.
Do blog A Nova Corja
O Braziu perdeu sete posições no Índice de Percepção da Corrupção feito pela ong Transparência Internacional e agora ocupa o 80º lugar. Não foi por causa de esforço. Foi incompetência, mesmo.
Em 2008, o bra$ileiro corrompeu a mesma coisa que em 2007. A piora só aconteceu porque algumas potências mundiais como Trinidad e Tobago melhoraram seus índices. Nosso sonho de dividir o último lugar com a Somália e se transformar no país mais corrupto do mundo está se tornando realidade graças à iniciativa de nossos aliados nessa luta.
Os bra$ileiros precisam corromper mais se quiserem ser os melhores do mundo no quesito (sempre), ou então vamos ter que dividir a tabela com o Burkina Fasso, Marrocos e Arábia Saudita (o que já é respeitável).
A Suazilândia (vai procurar no Google onde fica) já passou nóis!
Vai Braziu!
E o desmonte da UEGRS continua
Desde o ano de 2006, não é realizado vestibular para os cursos de Graduação em Teatro e Música da UERGS: "O corte de verbas está sufocando a instituição", afirmaram estudantes.
Além de fechar escolas, formar "turmas monstro", sucatear a educação básica, o "Governo Tucano" pretende demolir com o ensino superior no Estado. Soava quase irônico o "Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda a terra." cantado pelos manifestantes.
Abaixo o manifesto dos estudantes de artes da UERGS - Montenegro
UERGS UNIDADE MONTENEGRO ESTÁ SENDO SEPULTADA
Na Universidade Estadual do Rio Grande dos Sul, na cidade de Montenegro, que ainda conta com os cursos de Dança e Artes Visuais, com igual qualidade.
Apesar do reconhecimento da qualidade dos cursos oferecidos e da grande procura por vagas, o atual Governo está matando a Universidade a mingua! Não é feito concurso vestibular para os cursos de artes desde 2006.
Enquanto o Governo se preocupa em dar explicações com relação às suspeitas de desvio de verba pública, nós estudantes e professores estamos esquecidos.
Conclamamos o povo gaúcho a entrar nesta luta, em prol da Universidade pública e gratuita, que já é uma realidade e está sendo aniquilada!
Vestibular já!!!!
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Lula cria cobra (ou tucano) no ninho
Não me refiro ao ofídio da foto, mas a serpente que o segura. O Ministro da Defesa, o oligárquico, dantista Nelson Jobin, mentiu descaradamente sobre os aparelhos adquiridos pela ABIN. Jobin alegou categoricamente que os tais aparelhos serviam para fazer escutas, o que levou a queda de Paulo Lacera, diretor da ABIn, desafeto de Daniel Dantas.
De acordo com laudo do Instituto Nacional de Criminalística (INC), da Polícia Federal, os tais aparelhos não tem a capacidade que o Ministro Nelson Jobin afirmou terem.
O "articulador" ficou em maus lençois, e diante de tais atos, não tem condições de ser mantido a frente do Ministério. Lula deve rever essa pasta, antes de ser "picado" por seu titular.
Abaixo fac símile extraído do jornal Correio do Povo, de hoje, com cópia dos laudos que expuseram de vez a face golpista de Jobin:
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Banqueiros rejeitam reivindicações dos bancários
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Lula, Satiagraha e a Real Politik
Eles estão vencendo o jogo. Transformaram os acusadores em réus, e deram liberdade aos réus para que continuem a pilhar o Estado Brasileiro. A estratégia é impecável, obviamente que não funcionaria em qualquer país sério, mas estamos falando do Brasil.
Um banqueiro é preso com a "boca na botija", ou os dólares em Cayman, uma das maiores quadrilhas especializadas em crimes financeiros em atividade no país, desbaratada. O problema, é que ese banqueiro tem "bala na agulha" e se abrir a boca, leva pra cadeia metade (se não mais) dos quadros políticos do Brsail.
Uma articulação sem precedentes foi feita para livrar o nobre banqueiro e sua gangue das garras da polícia. Judiciário, legislativo, executivos e a imprensa servil uniram esforços para isso, e o resultado foi surpreendente, (ou não foi, em se tratando do País do Carnaval).
Os "perseguidores" foram defenestrados de seus postos, as autoridades responsáveis inverteram o processo, e agora julgam a ação policial e não os criminosos.
Abaixo texto de Luis Nassif, falando sobre essa "articulação":
Lula, Satiagraha e a Real Politik
Por Luis Nassif
Atenção, um novo capítulo se abre para o caso Satiagraha.
O governo Lula acertou um acordo com a Editora Abril – e, por extensão, com Daniel Dantas – para anular a Operação Satiagraha. O acordo foi montado da seguinte maneira:
1. É impossível interferir nos trabalhos em andamento do Ministério Público Federal e do juiz De Sanctis. A ofensiva de Gilmar Mendes foi um tiro no pé.
2. A estratégia acertada consistirá em tentar anular o inquérito de Protógenes, no âmbito da Polícia Federal. A versão preparada é que o inquérito continha irregularidades que precisariam ser sanadas. E a Polícia Federal colocou seus homens de ouro para “salvar” o inquérito. O trabalho dos “homens de ouro, na verdade, será o de garantir a anulação do inquérito.
3. Ao mesmo tempo, o governo aproveitará o factóide dos 52 funcionários da ABIN que participaram da operação - uma ação de colaboração já prevista pelo Sistema Brasileiro de Inteligência - para consumar a degola de Paulo Lacerda. A matéria do Estadão de domingo, o da "demissão em off" estava correta. Sabe-se, internamente no governo, que a operação foi normal. Assim como se tem plena convicção de que o tal “grampo” entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres foi uma armação. Mas Lula se curvou à real politik.
4. De sua parte, jornais e jornalistas mais envolvidos com o jogo estão reforçando essa versão do “inquérito ilegal” e do messianismo do delegado Protógenes. A armação, agora, terá o reforço da concordância tácita do Palácio.
5. O pacto foi referendado pela Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. O Ministro Tarso Genro foi o que se mostrou mais constrangido com a operação, mas acabou se curvando à força dos fatos. Com essa operação, Lula e Dilma passam a ser aceitos no grande salão nobre, pavimentando a candidatura da Ministra para as próximas eleições.
6. O seu principal adversário, José Serra, já é outro aliado que entrou à reboque da Editora Abril. Está pagando um preço caro, com a descaracterização do seu discurso político.
7. A bola, agora, está com o Ministério Público e o Juiz De Sanctis, que terão que trabalhar com essa nova peça do jogo: a intenção de se anular o inquérito.
Não sei por que, mas o evento da Abril me lembrou aquela cena épica de Francis Ford Copolla, o fecho do filme. Enquanto todos estão na grande ópera, os inimigos são fuzilados na calada da noite.
Na grande festa foram selados os destinos do delegado Protógenes e Paulo Lacerda, dois funcionários públicos cumpridores da lei. Anotem os nomes deles e os repassem para seus filhos e netos: foram dois brasileiros dignos, sacrificados por um jogo sujo.
É o fim da grande batalha pela instituição da legalidade no país? Longe disso. É apenas um novo capítulo. Tanto assim, que integrantes próximos ao jogo estão completamente incomodados, assim como vários colegas jornalistas, que entenderam que esse jogo de cena foi longe demais e está comprometendo a imagem da categoria como um todo.
Com tanta testemunha, tanto conflito de consciência, julgam ser possível varrer o elefante para debaixo do tapete? É muita falta de fé no estágio atual de desenvolvimento do país.
Cobertura para gado ver
Acabo de ver um texto de opinião, disfarçado de reportagem no Jornal Nacional do Globão, nos mesmos moldes do que tinha comentado no post anterior. a diferença fica pelo fato de o veículo comercial ter mencionado com um 'pouquinho mais de ênfase" o massacre de dezenas de camponezes bolivianos no departamento de Pando. O governador Leopoldo Fernández foi preso pelo Exército Boliviano, acusado de genocídio, pelo patrocínio do citado massacre.
Deixo por conta de meus quatro fiéis leitores, a eleição do fato mais relevante dentre os citados: O massacre patrocinado por um governo , ou a prisão do governante, pelo presidente do país.
O Globão escolheu o fato mais relevante aos seus interesses comerciais, e escolheu deixar de lado o massacre e fez uma entrevista "enorme" e altamente "emocionante" com o governador, antes de sua prisão. A entrevista parece ter sido orientada por um de seus dramaturgos, e mostrava um "homem de bem", claramente abatido, cansado da "perseguição política injusta", realizada pelo seu desafeto Evo Morales.
Na "reportagem" que tive o desprazer de assistir, só faltava a manifestação da Regina Duarte, afirmando emocionada, que "Tem medo de Evo Morales"
Quanto as camponeses massacrados, de acordo com esse padrão de "noticiar", seria o caso de retirar Morales do poder, que esses "homens de bem" cessariam com esses ataques armados, provavelmente eles deixariam os grossos calibres nos armários, até que outro governo afrontasse seus interesses.
Mais uma semana acompanhando a cobertura global sobre os ataques ao Governo Boliviano e saio mugindo.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
O que "a gente não vê por aqui"!
Assisti ao Jornal Nacional hoje, fiquei sabendo que a Bolívia vive uma crise, que parece ter se iniciado por intransigências do Presidente Evo Morales, que por isso enfrenta protestos diários em todo o país.
O apresentador do jornalão, mencionou algo sobre um possível ataque a militantes do partido do presidente. Da forma como falou, dava a entender que teria sido um simples confronto de rua, entre partidários de ambos os lados, mas parece que foi um pouco mais do que isso. Eles não falaram sobre campoeneses desarmados de um lado e metralhadoras do outro (será que esqueceram? Ia atrasar a novela se comentassem?).
A marca do jornalismo de resultados do "globão", ficou, mais uma vez, evidente, nas notícias relativas à essa tentativa, nada discreta, de golpe de estado, movida pelas mesmas forças políticas que criaram a globo, nos anos 60 e 70 no Brasil, e que a suportam economicamente, ainda. Seu "parceiros comerciais".
Assistindo á esse "show", fico cada vez mais convencido de que não notaria a difereça se numa bela noite dessas, substituíssem a dupla de apresentadores engomadinhos pelo palhaço Bozo. O conteúdo do jornalão seria o mesmo, e a forma de apresentar também.
Segue abaixo texto extraído da Agência Carta Maior, relata o que ocorreu, naquilo que o apresentador do jornalão classificou, e relatou brevemente, como um conflito de partidários:
Governador boliviano acusado de chacinar 30 camponeses
A maioria da imprensa brasileira tratou as recentes mortes de camponeses na Bolívia como resultado de um confronto entre opositores e apoiadores do presidente Evo Morales. Sobreviventes do massacre contam outra história e falam como sofreram uma emboscada de pistoleiros a soldo do governador do departamento de Pando, no norte da Bolívia
Vermelho.org
O massacre camponês mais mortífero da história da Bolívia desde a democratização de 1980 foi obra de pistoleiros a soldo do governo do departamento de Pando, no extremo norte do país. A emboscada na localidade de Tres Barracas, município de Porvenir, deixou um saldo que já chega a 30 mortos e dezenas de feridos. Na noite de sábado (13) o governo do presidente Evo Morales considerava que o governador de Pando, Leopoldo Fernández colocou-se ''à margem da lei''.
As agências noticiosas internacionais noticiaram que Evo decretou na noite de sábado a prisão de Fernández. Às 14 horas deste domingo (14, os sites da Agência Boliviana de Información (ABI), estatal, e dos três maiores jornais bolivianos (El Deber, El Diario e Los Tiempos) não confirmavam a notícia.
''A magnitude do massacre ocorrido em Porvenir supera a do massacre de outubro de 2003 em El Alto; ali houve 60 mortos e em Porvenir nos aproximamos de 30. Caso se faça uma comparação entre a população de El Alto e a de Pando, constata-se que estamos diante do massacre mais sanguinário já acontecido em tempos de democracia'', afirmou o ministro de Governo (equivalente do chefe da Casa Civil), Alfredo Rada, em coletiva no Palácio Quemado.
Pando, o menos populoso dos nove departamentos bolivianos, tem 70 mil habitantes. El Alto, terceira maior cidade da Bolívia, depois de Santa Cruz e La Paz, tem 830 mil habitantes. El Alto foi o principal centro da rebelião popular contra o presidente neoliberal Gonzalo Sánchez de Lozada. A indignação com a chacina levou o movimento ao seu auge; cinco dias depois o presidente fugia da Bolívia para asilar-se em Miami.
Um governador ''à margem da lei''
O ministro afirmou que um governador como Leopoldo Fernández, que empreendeu um massacre de camponeses como o de Porvenir e desacata um dispositivo constitucional como o estado de sítio, ''está se colocando à margem da lei''.
Alfredo Rada disse temer que o número de mortos continue ''aumentando a cada dia que passa''. Ele exigiu que o Congresso Nacional faça a investigação do episódio, que classificou de genocídio.
Em Cobija (capital de Pando, 32 mil habitantes, às margens do Rio Acre, que assinala a fronteira com o Brasil), o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, advertiu: Fernández ''pagará pelo genocídio em massa, mais cedo ou mais tarde''.
Com a repercussão do massacre, Fernández se isolou inclusive dos governadores de Beni, Santa Cruz e Tarija, que também participam do Conalde (Conselho Nacional Democrático) da oposição oligárquico-''autonomista''. Eles suspenderam neste domingo (13) uma viagem de solidariedade a Pando, anunciada anteriormente, com o pretexto de que não havia garantias para o pouso em Cobija.
Pando conta seus mortos
Pando concentrou as mortes em três semanas de ações violentas da oposição oligárquica da ''Meia Lua'' (que inlui ainda os departamentos de Santa Cruz, Beni e Tarija).
Durante a emboscada em Porvenir, morreram também dois funcionários do governo Fernández – embora 95% das vítimas sejam camponeses abatidos a tiros pelos pistoleiros. Os fatos foram comprovados por diferentes testemunhos de sobreviventes, que falaram aos meios de comunicação
Na sexta-feira, o Gabinete de Ministros decretou o estado de sítio no departamento de Pando. Tropas militares foram mobilizadas para retomar o Aeroporto Aníbal Arab, de Cobija, tomado por paramilitares. No conflito com as milícias direitistas, tombou o marinheiro Ramiro Tañini Alvarado, de 17 anos, morto por uma bala de calibre 22, segundo o resultado da autópsia.
Isaac Ávalos, secretário executivo da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, denunciou em Cochabamba que mais de 50 filiados à sua entidade estão desaparecidos. Eles participavam da marcha de mil camponeses que se dirigia a Cobija quando foi emboscada pelos pistoleiros.
''Mataram oito membros de nossa organização em Pando; há 26 feridos a bala e 51 desaparecidos até o momento. Isto apenas entre os filiados à nossa organização, sem contar o resto'', afirmou Ávalos, ao discursar durante uma cerimônia de entrega de ambulâncias pelo presidente Evo Morales.
Como foi o massacre
O cenário do massacre foi uma ponte, a 7 km de Porvenir, por onde passavam mil camponeses, em marcha rumo a Cobija, num protesto contra os atos de violência comandados pelo governador Leopoldo Fernández, o cacique local. Pistoleiros e paramilitares, financiados e treinados pelo governador, atiraram contra os camponeses na quinta-feira, 11 de setembro.
Os fatos e os testemunhos desmentem a versão de Fernández, de que o conflito foi ''iniciado'' pelos camponeses. Roberto Tito, um dos trabalhadores rurais que estavam na ponte quando começou a fuzilaria, atesta que a multidão marchava desarmada quando se ouviram os disparos e as pessoas começaram a cair. Suas únicas armas eram paus e facões.
Os atiradores emboscados na copa das árvores (a região é de floresta amazônica). Começaram a atirar contra a multidão, onde havia também crianças e mulheres.
''Estávamos desarmados''
''Estávamos desarmados, não foi como eles dizem. Nos detiveram uns sete quilômetros antes de Porvenir. Quando avançamos na altura da ponte, logo nos atacaram. Nos emboscaram e começaram a disparar com metralhadoras automáticas'', relatou Tito, sob o impacto da morte de seus companheiros.
''Os companheiros tiveram de escapar para todos os lados. Não perdoavam nem crianças nem mulheres. Foi um massacre de camponeses, é uma coisa que não podemos permitir'', disse o trabalhador rural.
O depoimento de Tito é apoiado pelo senador Abraham Cuellar, da UN (Unidade Nacional). O parlamentar relata que na altura da Puente de Cachuelita foi cavada uma trincheira dcom 10 metros de largura e bastante profunda, para impedir o trânsito de veículos e pessoas. Foi ali que começou a fuzilaria.
As pessoas iam a pé. Foi uma emboscada preparada pelo governo, planejada, com armamento bélico. O resultado, lamentável, são muitos mortos do lado camponês, na maioria moradores dos povoados dessa região, que não pertencem ao MAS (Movimento Ao Socialismo, o partido de Evo Morales) mas são de organizações que apóiam o governo'', disse Cuellar.
Senador: ''Continuam a matar gente''
Diante da emboscada, os camponeses só tiveram uma alternativa para fugir da morte: internaram-se num monte, enquanto os paramilitares descarregavam suas armas. Há denúncias, desde 2006, de que o governador promovia o treinamento de milícias na região.
Quem participou da emboscada? ''É gente do governo e do Serviço Departamental de Estradas, que está bem armada, com metralhadoras; e franco-atiradores, porque atiravam à vontade, da copa das árvores'', relatou Tito.
O senador Cuellar confirma: ''Sabemos que há uma perseguição implacável em iladelfia e Cachuelita, dois povoados perto de Cobija. Eles continuam os assassinatos, continuam a matar gente, gente desarmada'', relatou.
O senador acusou ''sicários'' (mercenários), contratados pelas autoridades de Pando, de usarem inclusive metralhadoras. ''Isso já obrigou pelo menos uma centena de pessoas a cruzar a fronteira com o Brasil, buscando refúgio'', afirmou.
Com informações da Agência Boliviana de Infomação
domingo, 14 de setembro de 2008
O mito da tributação elevada no Brasil
Figura, hoje, no blog Diário Gauche, uma análise do sistema tributário brasileiro, realizada por Márcio Pochmann, presidene do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Em sua análise, Pochmann desmistifica o mito da alta carga tributária no país e propõe alterações em sua matriz.
Dois de cada três reais arrecadados só passeiam pela esfera pública antes de retornar imediata e diretamente aos ricos
O tema relativo ao peso dos impostos, taxas e contribuições no Brasil permanece ainda sendo tratado na superfície. A identificação de que a carga tributária supera 35% do PIB (Produto Interno Bruto) é um simples registro, insuficiente, por si só, para permitir comparações adequadas com outros países. Ou seja, mencionar que o Brasil possui carga tributária de país rico, embora se situe no bloco das nações de renda intermediária, ajuda pouco, quando não confunde o entendimento a respeito das especificidades nacionais. Elas dificultam análises comparativas internacionais e exigem maior investigação.
Por causa disso, cabem, pelo menos, duas observações principais que terminam por desconstruir o mito da tributação elevada no Brasil.
Em primeiro lugar, a observação de que os impostos, taxas e contribuições incidem regressivamente sobre os brasileiros. Como o país mantém uma péssima repartição da renda e riqueza, há segmentos sociais que praticamente não sentem o peso da tributação, ao contrário de outros submetidos ao fardo muito expressivo da arrecadação fiscal.
Os ricos brasileiros quase não pagam impostos, taxas e contribuições.
Os 10% mais ricos, que concentram três quartos de toda a riqueza do país, estão praticamente imunizados contra o vírus da tributação, seja pela falta de impostos que incidam direta e especialmente sobre eles - como o tributo sobre grandes fortunas -, seja porque contam com assessorias sofisticadas para encontrar brechas legais para planejar ganhos quase ausentes de impostos, taxas e contribuições.
Já os pobres não têm escapatória, pois estão condenados a compartilhar suas reduzidas rendas com o financiamento do Estado brasileiro. Isso porque a tributação brasileira é pesadamente indireta, ou seja, arrecada a maior parte em impostos sobre produtos e serviços - portanto, pesa mais para quem ganha menos.
Além disso, há uma tributação direta, sobre renda e bens, muito "tímida" em termos de progressividade. O Imposto de Renda, que, nos EUA, tem cinco faixas e alíquotas de até 40% e, na França, 12 faixas com até 57%, no Brasil tem apenas duas, com alíquota máxima de 27,5%. Aqui, impostos sobre patrimônio, como IPTU ou ITR, nem progressividade têm.
As habitações dos mais pobres, por exemplo, pagam, proporcionalmente à renda, mais tributos em geral do que aqueles que residem nas mansões, enquanto os grandes proprietários de terra convivem com impostos reduzidos e decrescentes.
Aqueles com renda acima de R$ 3.900 contribuem apenas com 23%.
No entanto, quem vive com renda média mensal de R$ 73 transfere um terço para a receita tributária.
Em síntese, a pobreza no Brasil não implica somente a insuficiência de renda para sobreviver, mas também a condição de pagar mais impostos, taxas e contribuições.
Em segundo lugar, a observação de que a carga tributária corresponde à capacidade efetiva de gasto da administração pública brasileiro, conforme comparações internacionais indicam ser. No Brasil, a cada R$ 3 arrecadados pela tributação, somente R$ 1 termina sendo alocado livremente pelos governantes.
Isso porque, uma vez arrecadado, configurando a carga tributária bruta, há a quase imediata devolução a determinados segmentos sociais na forma de subsídios, isenções, transferências sociais e pagamento dos juros do endividamento público.
Noutras palavras, R$ 2 de cada R$ 3 arrecadados só passeiam pela esfera pública antes de retornar imediata e diretamente aos ricos (recebimento de juros da dívida), às empresas (subsídios e incentivos) e aos beneficiários de aposentadorias e pensões. Assim, o uso da carga tributária bruta no Brasil se transforma num indicador pouco eficaz para aferir o peso real da tributação.
Talvez o mais adequado possa ser análises sobre a carga tributária líquida, que é aquela que, de fato, indica a magnitude efetiva dos impostos, taxas e contribuições relativamente ao tamanho da renda dos brasileiros, pois é com essa quantia que os governantes conduzem (bem ou mal) o conjunto das políticas públicas.
sábado, 13 de setembro de 2008
Embaixador liderava movimento golpista, afirmam deputados bolivianos.
Os movimentos de um embaixador especialista em conflitos separatistas
Deputados bolivianos divulgam documento denunciando as articulações promovidas pelo embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, contra o governo de Evo Morales. Considerado um especialista em conflitos separatistas, Goldberg foi enviado a La Paz depois de chefiar a missão dos EUA no Kosovo, onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, depois da Guerra dos Balcãs.
Marco Aurélio Weissheimer (para a Agência Carta Maior)
Os fatos apontados pelos parlamentares bolivianos são os seguintes:
No dia 13 de outubro de 2006, os Estados Unidos enviam a Bolívia, como embaixador, Philip Goldberg, um especialista em fomentar conflitos separatistas. Entre 1994 e 1996, foi chefe da secretaria do Departamento de Estado para assuntos da Bósnia (durante a guerra separatista dos Bálcãs). Entre 2004 e 2006, Goldberg foi chefe da missão dos EUA em Pristina (Kosovo), onde trabalhou para consolidar a separação e a independência dessa região, marcada por uma luta que deixou milhares de mortos.
Segundo os deputados, Philip Goldberg foi enviado a Bolívia com a missão de desestabilizar o governo de Evo Morales, principalmente incentivando o separatismo das regiões orientais. Na Bolívia, depois do triunfo de Evo Morales na eleição de 18 de dezembro de 2005, os partidos tradicionais e as elites sofreram um duro golpe, Goldberg se encarregou de reorganizá-los e de construir um caminho conspirativo para desgastar o novo governo.
Plano midiático de desinformação
Goldberg organizou uma grande coordenação com empresários do leste, com donos de meios de comunicação e políticos do movimento Podemos para colocar em marcha um grande plano de desinformação com respeito à gestão de Evo Morales, tudo isso dentro do marco de uma intensificação das lutas regionais contra o Estado boliviano. Esse plano de desinformação era constituído pelos seguintes passos:
a) Mostrar que o narcotráfico estava crescendo na Bolívia;
b) Os meios de comunicação precisavam mostrar que Evo estava governando mal e que a inflação, a corrupção e o desgoverno estavam crescendo;
c) Os meios de comunicação também deviam imputar ao governo a responsabilidade pela violência no país. Começou a ser difundido aí o conceito de que “Evo dividia a Bolívia”.
Consolidados esses passos, Goldberg reúne-se, na primeira semana de maio, com Jorge Quiroga e acertam a aprovação, no Senado, do referendo revogatório.
Eles estavam convencidos que Evo Morales não conseguiria obter mais de 50% dos votos e, uma vez deslegitimado nas urnas, a oposição e os prefeitos da chamada “Meia Lua” pediriam a renúncia do presidente por “ilegítimo, mau governante e por dividir a Bolívia”. No entanto, os prefeitos dos departamentos (equivalentes a governadores) não foram consultados sobre este plano e acabaram se opondo a ele, por achar que não daria certo. No dia 23 de junho, reúnem-se em Tarija e elaboram um pronunciamento escrito para rechaçar o referendo revogatório. Dias antes, em 17 de junho, Philip Goldberg viajou para os EUA, alegando uma suposta crise diplomática.
O objetivo real de sua viagem, dizem os deputados, foi definir um plano, junto a agências publicitárias, para desenvolver uma guerra suja que pudesse causar a derrota de Evo no referendo. No dia 2 de julho, Goldberg regressou a La Paz e, imediatamente, reuniu-se com cada um dos prefeitos opositores para convencê-los a aceitar o referendo. No dia 5 de julho, os prefeitos opositores anunciam que aceitam disputar o referendo.
Os donos das grandes empresas de comunicação também participaram deste plano, denunciam os parlamentares. Isso explicaria, por exemplo, porque nos principais programas políticos destes meios as pesquisas sempre apontavam Evo Morales com cerca de 49% dos votos. A tentativa de derrubada do governo pelo voto estava em marcha. Além desta campanha nos programas políticos, também foi executada uma outra no terreno da publicidade. A oposição contratou uma agência de publicidade para elaborar os primeiros spots contra Evo Morales. Ao dar-se conta que os roteiros e o dinheiro vinham dos EUA, esta agência decidiu não produzir mais os comerciais.
O Plano B do embaixador
O plano para tirar Evo do governo acabou sendo frustrado pelo resultado do referendo. O presidente se legitimou com mais de 67% dos votos e Goldberg passou então a colocar em marcha um Plano B, que incluem greves, bloqueios e ações violentas que buscariam dois resultados alternativos.
1) O conflito se generaliza e obre o leste e parte do oeste do país. A população começa a se cansar, as forças da ordem entram em ação, com muitas mortes. Neste caso, Evo teria que convocar eleições ou deixar o governo depois dos conflitos com mortes. A insistente provocação para que as forças policiais e as forças armadas atuem se encaixa neste plano.
2) Caso não ocorra o cenário anterior, a oposição contaria ainda com uma segunda possibilidade: uma vez desalojada a polícia e o Estado Nacional das regiões, em meio à violência, Goldberg oferece aos prefeitos opositores a vinda de mediadores internacionais, inclusive tropas da ONU para concretizar o separatismo dos quatro departamentos rebeldes, como fez no Kosovo.
Seguindo esse plano, Goldberg viajou a Sucre e se reuniu com a prefeita Savina Cuellar, que pediu a renúncia do presidente. No dia 21 de agosto, o embaixador encontrou-se clandestinamente com o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, e com quatro congressistas norte-americanos. No dia 25 de agosto, mais uma reunião com Rubén Costas. Paralelamente, a oposição rejeitou o chamado de diálogo feito pelo governo e, no dia 24 de agosto, convocou uma greve geral. Seguindo a linha proposta por Goldberg, denunciam ainda os parlamentares do MAS, os prefeitos impuseram um plano de desgaste de médio prazo, incluindo destruição de instituições públicas e provocações à polícia e às forças armadas.
Na mesma linha golpista, em Santa Cruz e em Tarija começou-se a falar de federalismo e até de independência. Como o empresariado cruceño estava mais interessado na Feira de Santa Cruz (que deve iniciar no dia 19 de setembro) que nas greves e bloqueios, o Departamento de Estado convocou Branco Marinkovic para uma conversa nos EUA. No dia 1° de setembro, em um pequeno avião Beechcraft, matrícula C-90A, Marinkovic viajou aos Estados Unidos onde o convenceram de que o plano estava em sua trama final e que era preciso jogar-se todo nele. No dia 9 de setembro, horas depois do regresso de Marinkovic a Santa Cruz, iniciam protestos violentos, com invasão e queima de instituições públicas e novas agressões às forças armadas e à polícia.
Este é o plano golpista que está em marcha com o apoio da embaixada dos EUA, dizem os deputados. Foram essas razões, asseguram, que levaram o governo boliviano a pedir sua saída do país. Eles manifestam confiança que esse plano fracassará porque o governo de Evo Morales segue controlando o conflito, com paciência e dentro da legalidade, mantendo-o em sua dimensão regional. “A violência gerada por grupos impulsionados por este plano golpista é a forma pela qual os setores conservadores mostram sua decisão de acabar com a democracia, já que ela não serve mais aos seus interesses”, concluem.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Para atingir o déficit zero, governo tucano não faz nem o essencial, denuncia PT
Leia o relatório na íntegra aqui.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
O movimento golpista e terrorista da oposição a Morales
Volto a mencionar o discurso final do Presidente Salvador Allende, para ilustrar um fato que ocorre atualmente na Bolívia.
Allende sofreu uma grande campanha de desestabilização, que antecedeu ao golpe propriamente dito. Essa movimentação, sustentada pelo" ouro de Washington", partiu de lock-outs e greves, pagas pela elite reacionária, que pretendia manter seus privilégios a todo o custo, e em curto espaço de tempo, passaram aos atentados e ataques terroristas ao governo eleito.
Na Bolívia, um movimento semelhante é encabeçado por governadores de direita, de cinco províncias rebeldes. As ações de lock-out avançaram hoje para o estágio do terrorismo. Um gasoduto boliviano, que conduz gás natural ao Brasil e a Argentina, foi atacado e destuído pelos insurgentes.
O Governo boliviano reagiu, expulsando o embaixador estadunidense do país, classificado como "persona non grata", acusado de orquestrar os ataques.
Cito parte do discurso de Allende, pois mais uma vez, a História teima em se repetir, em atos proferidos pelos que querem manter-se indeterminadamente no poder, alterando apenas nomes, mas mantendo a mesma ideologia, que derrubou o presidente chileno, e agora volta-se contra o presidente democraticamente eleito da Bolívia:
"Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta. Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos."
11 DE SETEMBRO DE 1973, O DIA DA INFÂMIA
Luis Nassif denuncia o denuncismo do Panfleto "Veja"
Usei propositalmente da redundância no título, para destacar a forma de "fazer notícias" do panfleto políco chamado de Revista Veja. Nassif, autor do Dossiê Veja, no qual denuncia o pseudo jornalismo desse grupo, é jornalista e comentarista econômico da TV Cultura, membro do Conselho do Instituto de Estudos Avançados da USP e do Conselho de Economia da FIESP.
Leia aqui a entrevista de Luis Nassif ao Instituto Humanitas Unisinos, no qual expõe o falso jornalismo do panfleto, e a forma como esse vem conspirando para liberar Daniel Dantas e sua quadrilha, das investigações da PF e dos processos que se seguirão a essas.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
"Se precisar, vai ter sangue. É preciso conter o comunismo e derrubar o governo deste índio infeliz"
A frase, título desse post, que poderia facilmente encontrar um claro reflexo na obra Mein Kampf, foi proferida por um "líder cívico" do departamento insurgente de Tarija, referindo-se presidente, eleito deocraticamente, Evo Morales.
O tom golpista e racista da frase, sintetiza tudo o que está ocorrendo na Bolívia hoje, uma elite branca ressentida de ser governada por um representante da maioria reprimida ao longo dos séculos, desde o colonialismo clássico ao colonialismo disfarçado, dos governos servis, aliados ao capital extrangeiro.
Abaixo texto publicado hoje por Cristóvão Feil em seu blog, o Diário Gauche
Arma-se um golpe racista na Bolívia
"Se precisar, vai ter sangue. É preciso conter o comunismo e derrubar o governo deste índio infeliz", foi o que disse ontem Jorge Chávez, líder "cívico" de Tarija, um dos Departamentos rebelados contra o governo legítimo de Evo Morales.
No mês passado, Rubén Costas, governador “rebelde” do rico Departamento de Santa Cruz de la Sierra, já havia chamado Evo Morales de “macaco”.
A oposição raivosa contra o presidente Evo Morales é formada ainda pelo líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, Branko Marinkovic, um notório direitista que não se conforma em ser governado por um descendente da maioria indígena da Bolívia.
Esses três brancos e racistas lideram junto com os governadores dos Departamentos de Tarija, Beni e Pando a oposição insurgente contra o poder político legítima e autenticamente representado por Evo.
A principal estratégia dessa direita inconformada é a violência. Estão fechando estradas, impedindo o escoamento da produção com o intuito de paralisar o país e levá-lo a uma situação de insatisfação generalizada, bem como tentativas mal sucedidas de cortar o suprimento de gás natural para o Brasil, causando tumulto nas relações binacionais.
Em alguns momentos, o cenário é bastante semelhante ao golpe que derrubou o governo de Salvador Allende, no Chile em 1973, especialmente quanto ao bloqueio de vias e estradas importantes para o abastecimento de víveres e mercadorias, embora, difira quanto a presença de conspiradores nas embaixadas dos Estados Unidos (que no Chile foi fundamental para o sucesso do golpe pinochetista) e do Brasil (que foi um local privilegiado de reunião dos conspiradores internos e externos).
Pelo menos por enquanto, nada indica a presença de estrangeiros na orientação aos golpistas da minoria rica e branca. Por ora.
Redator: Cristóvão Feil
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
O veneno deve continuar nas gôndolas
"As indústrias rechaçam qualquer prazo para eliminar a gordura trans dos alimentos consumidos no Brasil."
O presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação), Edmund Klotz, reage com deboche ao comentar os planos do Ministério da Saúde de ver, em pouco tempo, o Brasil livre da mais danosa das gorduras.
'Se for fixado um prazo para acabar com a gordura trans, vamos ter de criar porco de novo e voltar à velha banha', afirma Klotz. 'Ainda não temos nada com um resultado final parecido com o dessa gordura.' A informação é da Folha, de hoje.
Neste ano, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, convocou os fabricantes e defendeu o modelo do Canadá, que deu três anos para que o ingrediente fosse banido.
'A nossa vontade é que, num curto prazo, nós possamos estar com 100% dos alimentos comercializados no Brasil sem gordura trans', afirmou.
O empenho do ministro se justifica pelos gastos com o tratamento dos brasileiros que comem mal. Cerca de 168 mil pessoas foram hospitalizadas em 2007 em decorrência de acidente vascular cerebral - uma das conseqüências do colesterol alterado -, o que custou R$ 118 milhões aos cofres públicos."
Nota do blogueiro: Sugiro a esses senhores, uma dieta baseada nas porcarias que vendem, de formas mascaradas de sorrisos e palhacinhos coloridos, pra ver quanto tempo seus organismos aguentam, e por quanto tempo mantém essa opinião genocida.
Como forma de ilustração dos males causados por esse tipo de produto, sugiro o filme "Super Size Me", em português "A Dieta do Palhaço" de Morgan Spurlock, no qual o diretor se submete a uma experiência como a que sugeri, comendo somente "Mc Donalds" durante um mês. O resultado não poderia ser outro.
Link para baixar "Super size me" no formato torrent aqui
Link para baixar legenda compatível aqui
Os novos paradigmas do liberalismo econômico
Adan Smith, o "pai" do liberalismo econômico, se contorceria no caixão se pudesse ver o módus-operandi de seus pupilos do século XXI. Essa ideologia política pregava a não intervenção estatal na economia, que deveria ser regulada pelas leis do mercado (oferta e procura, para resumir).
O Estado deveria manter o monopólio da força, manter-se como órgão repressor e coercitivo, organizando o fluxo dos capitais, sem jamais intervir na economia.
Tal fórmula foi levada ao pé da letra, no início do século passado, culminando no "Crash" do sistema capitalista mundial em 1929.
E quem acabou salvando o capitalismo? O Estado! John Maynard Keynes, com sua "fórmula mágica" do emprego maciço de capital estatal como fórmula para vencer a crise econômica mundial tornou-se ícone do mundo ocidental, quando se comprovou que o Estado salvara o capitalismo.
No início dos anos 90, estando o mundo, ainda, sob o estigma de Ronald Reagan, os "Sábios" da economia mundial decidiram chutar as idéias de Keynes, do cenário político mundial, requentando a fórmula da destruição do pré 1929.
Recauchutaram o liberalismo econômico, lhe deram roupa nova, injetaram algum botox e o lançaram como a panacéia da recessão mundial (que deveria existir nos sonhos de alguns deles).
E assim adentramos em uma nova era dourada de prosperidade, obviamente que de uma minoria, dos Dantas "espertos", que conseguiram tirar vantagem do desmonte dos Estados pelo mundo.
Demoliram os Estados, pegaram o que era público, construído com o suor, as lágrimas e o sangue de muitos cidadãos e enfiaram nos cofres e nas contas bancárias de um seleto grupinho de "Neo-Liberais".
O interessante é que depois de dar fim ao público, afirmar aos quatro ventos que o Estado "só atrapalha o desenvolvimento de uma sociedade livre", depois de tantos "fóruns da liberdade" (pena que não dizem pra quem, ou para que, é essa liberdade), depois de toda a putaria que foi a pilhagem do patrimônio público, surge uma nova crise, e quem vai socorrer os "neo-liberais"?
Os "Sábios de Davos" afirmam ser mais uma crise passageira, fruto da má administração de um campos específico do Mercado. Mas é mais uma convulsão cíclica do capitalismo, a necessidade da potencialização dos lucros, mesmo sem lastro, para a expansão e devora de uns por outros.
O Estado, mais uma vez tem de partir em socorro desses "idealistas", o Estado, que deveria ser demolido, para que o mercado regulasse a tudo, socorre os liberais da crise.
Refiro-me obviamente ao "socorro" estatal que o governo Bush está dando às corretoras que quebraram após o calote sofrido nos últimos anos. Quando mais uma vez, a necessidade de potencializar os lucros para investidas vorazes na concorrência. O povo, pagador de impostos que os socorram.
Mais uma vez, os "Sábios" que conduzem a economia mundial se lambuzam, no pote do lucro indiscriminado, sem limitações, sem fiscalização e sem parâmetros de sustentabilidade, até que as consequências ameaçam seus cofres e suas contas. Aí entra em ação o Estado.
Eles deveriam publicar mais obras, rever a teoria do mestre Simth, especialmente no que se refere ao Estado, que deveria servir como força policial, coercitiva e também para socorrer os liberais quando suas aventuras econômicas acabassem em "lambuzo".
domingo, 7 de setembro de 2008
O parto de uma Nação
Texto extraído do blog do Luis Nassif, no qual o autor analisa de forma muito séria e coerente os recentes acontecimentos do cenário político nacional, desencadeados pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Nessa operação alguns "entes" protegidos pelos principais conglomerados midiáticos do país foram presos por diversos crimes fiscais e econômicos, tendo suas quadrilhas desbaratadas, contaram com o "apoio amigo" de representantes de instituições brasileiras para livrarem-se das grades, e continuam livres, utilizando-se de seus estratagemas e conexões nebulosas para manter-se dessa forma, e continuar com suas atividades criminosas.
No dia em que ufanistas e iludidos comemoram nossa Independência, como se isso fosse o suficiente para nos manter livres, nada como uma boa dose de Realidade Brasileira.
Texto na íntegra abaixo:
O parto de uma Nação
Por Luis Nassif
É extraordinário o que estamos testemunhando nesses tempos de Satiagraha: é o parto de uma Nação.
Haverá ainda muita frustração pela frente, muita sensação de impotência, muito ceticismo se o país conseguirá ser alçado à condição de Nação civilizada. Mas a marcha da história é inevitável.
Está-se em plena batalha da legalidade contra o crime organizado. Os jovens juízes, procuradores, policiais que ousaram arrostar décadas de promiscuidade estão no jogo. Se eventualmente forem calados agora, a decepção geral será o combustível para a reação de amanhã.
O país está submetido a duas forças que caminharam em paralelo mas, agora, começam a colidir.
Uma delas, a consolidação de valores republicanos – não necessariamente de práticas - como a impessoalidade no trato da coisa pública, a transparência cada vez maior, movimento acelerado pelo advento de novas tecnologias de informação, a reação contra a impunidade.
Ao mesmo tempo, tem-se um país institucionalmente refém de desequilíbrios enormes. A falta de transparência do ciclo que se esgota abriu espaço para amplos abusos em todos os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e mídia, grande capital.
Criou-se uma enorme Nação de rabo preso em um momento em que a disseminação de valores e de tecnologia definia novos níveis para a transparência.
Ao mesmo tempo, o mundo (e o Brasil) ingressou em um ciclo de financeirização que permitiu a expansão ampla do crime organizado. Descrevo em detalhes esse processo no meu livro “Os Cabeças de Planilha”. Já tinha descrito esse modelo no meu “O Jornalismo dos anos 90”, no capítulo referente à CPI dos Precatórios.
A falta de regulação e controle nos mercados, a existência de paraísos fiscais, a complacência das autoridades reguladoras (e da mídia) criaram uma imensa zona cinzenta onde se misturou a contravenção fiscal com a corrupção política, a simbiose de “figuras notáveis” com o crime organizado. A falta de um regramento adequado e de instituições que combatessem os abusos, permitiu essa promiscuidade ampla.
Esse é o nó.
Agora, as instituições estão aí. Mas há um pesado passivo que não interessa a muitos que venha à tona. O resultado dessa batalha de transição é que definirá os rumos do país: se submetido aos limites da lei; ou do crime organizado.
Os novos atores
Aí entram dois atores. O primeiro, a mídia.
Já escrevi várias vezes sobre o tema, e volto a ele. Nesse ambiente promíscuo, parte da mídia passou a se valer da denúncia não como um instrumento de melhoria dos hábitos econômicos e políticos, mas como instrumento seletivo de poder. O esgarçamento dos critérios jornalísticos abriu espaço para os abusos que, agora, chegam a um ponto de alto risco para imagem da mídia.
Nesse movimento, papel essencial foi desempenhado pela diretoria de redação da
Veja. Graças ao seu amadorismo, conduzindo uma operação de alto risco – os pactos com Daniel Dantas - escancarou um modelo que, em mãos mais hábeis, levaria mais tempo para ser percebido.
O segundo ator são os órgãos de repressão ao crime organizado, que surgem no início dos anos 90 e se consolidam a partir da gestão Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça.
A maior parte do dinheiro do crime organizado transita pelo mercado financeiro, através de operações esquenta-esfria, de doleiros, de esquemas em paraísos fiscais, um universo intrincado que passa ao largo da compreensão do cidadão comum.
Tenho muito orgulho em ter contribuído de alguma maneira para preparar esse terreno para o combate ao crime organizado.
No início dos anos 90 passei análises sobre o mercado financeiro para o juiz Walter Maierovitch, o primeiro brasileiro a estudar seriamente o fenômeno do crime organizado.
No início de 2003, a convite de Márcio Thomaz Bastos dei uma das duas palestras de abertura do Seminário que ocorreu em Pirinópolis, juntando Ministério Público Federal, Polícia Federal, COAF, Banco Central, Secretaria da Receita Federal. Juntei as informações e análises que tinha coletado na cobertura da CPI dos Precatórios e dos esquemas de doleiros – que serviram de base para meu livro.
Surpreendi-me ao me dar conta da extensão do trabalho que se propunha, essa integração necessária entre os diversos órgãos, a busca de ferramentas de análise, de equipamentos de monitoração, o entusiasmo dos jovens funcionários públicos e as figuras mais velhas, respeitáveis, de Cláudio Fontelles, Paulo Lacerda e Márcio Thomaz Bastos.
Montou-se a organização, preparam-se os funcionários públicos e lhes foi conferida uma missão. E eles passaram a seguir o manual. Institucionalizava-se o combate ao crime organizado. E, institucionalizado, passava a se tornar, também, impessoal. Assim como em nações civilizadas, não havia mais intocáveis a serem preservados.
Nesse momento, deu-se o choque com o Brasil velho.
O choque do antigo
No início havia convivência estreita entre os dois poderes: a nova estrutura de repressão ao crime organizado e a mídia.
Houve muitos abusos, sim, invasão de escritórios de advocacia, vazamento de peças do inquérito. É possível que abusos continuem a ser cometidos. Mas tudo era suportado, defendido pela mídia, na condição de aliada preferencial, tendo acesso aos “furos” e blindagem contra abusos.
A convivência prosseguiu enquanto órgãos de mídia entendiam que a aliança lhes garantia salvo-conduto. Explodiu quando se revelou a extensão da Operação Satiagraha.
Aparentemente, a Operação Satiagraha flagrou quatro grupos envolvidos com o crime organizado: advogados, juízes, políticos e jornalistas/empresas jornalísticas. O que se pretende, agora? Julga-se ser possível varrer o processo para baixo do tapete? Em plena era da Internet, dos blogs, dos sites, do e-mail, julga-se ser possível passar em branco essa monumental manipulação das informações que se vê agora?
O jogo está no fim. Daqui para diante será esperneio. Continuarão assassinando reputações, promovendo factóides, manipulando ênfases. É possível que destruam Paulo Lacerda, Protógenes, De Sanctis e todos os que ousarem enfrentar esse tsunami. Mas não conseguirão parar a história.
Desse lamaçal, vai emergir uma nova mídia, uma reavaliação na qual os jornais sérios entenderão, em algum momento, que não dá mais para se envolver até o pescoço por uma solidariedade corporativista com os que transigiram.
E não adianta tentar transformar essa guerra em um Fla x Flu, Lula x oposição, PSDB x PT. Não cola. É uma briga da lei contra o crime organizado. Há que se definir limites para evitar abusos. Mas o que está em jogo é a tentativa de desmonte dessa estrutura.
Apostar que serão bem sucedidos, será apostar no atraso, na falta de leis, na manutenção dos abusos da mídia e dos grampos ilegais, no império do crime organizado, na promiscuidade entre poderes.
É esse o país que vamos entregar para nossos filhos? É evidente que não.
enviada por Luis Nassif