sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Vida longa à CUT

Nascida no berço das grandes mobilizações dos trabalhadores, a CUT completa hoje (ontem) 25 anos de existência. Durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), realizado em São Bernardo do Campo no dia 28 de agosto de 1983, mais de cinco mil pessoas lotaram o galpão da extinta companhia cinematográfica Vera Cruz e lançaram as bases do novo sindicalismo brasileiro, autônomo e independente.

Ao mesmo tempo em que ruíam os alicerces da ditadura militar no Brasil, inúmeros setores da sociedade civil começavam a se reorganizar. É neste ambiente de profunda mobilização da classe trabalhadora por seus direitos e pela redemocratização do País que nasceu a CUT, como expressão concreta da luta contra o sindicalismo oficial.

Vinte e cinco anos podem parecer pouco tempo, principalmente se comparados com as trajetórias das centenárias das organizações sindicais da Europa. No entanto, em função dos obstáculos à livre organização dos trabalhadores em nosso País, este um quarto de século representa um imenso passo no sentido de assegurar um espaço para os trabalhadores organizados no cenário nacional.

Parabéns a todos que ajudar a construir a CUT.

Texto extraído do site PTSul

Esse blogueiro também é mais um trabalhador "Cutista", filiado ao Sindicato dos Bancários de São Borja, à Federação dos Bancários do Rio Grande do Sul e à Contraf, entidades filiadas à CUT.

Mostras do fascismo tropical

“Compete a nós, segmentos esclarecidos e responsáveis da sociedade restabelecer as instituições rompidas e aprimorá-las, criando um núcleo monolítico de poder que seja garantidor da soberania nacional, que hoje nós não temos”.

Antônio José Ribas Paiva, em palestra no Clube Militar, em 13 de agosto de 2008.

“É necessário integrar os índios na nossa sociedade; nossa história é da mestiçagem, a política de demarcação da Funai vai contra os interesses da Nação e deve ser interrompida”.

General Gilberto Figueiredo, Presidente do Clube Militar, ao jornal Le Monde, em 8 de agosto de 2008.

As duas frases acima trazem uma temática muito conhecida dos povos latino americanos, ecos dos coturnos há muito tempo rejeitados pela opinião pública. Quando Antonio Paiva fala em um "núcleo monolítico de poder", esquece de mencionar que o país já teve tal modelo de governo, no último período, vigente entre 1964 e 1985.

"Nós os setores esclarecidos"... Mais uma vez a responsabilidade de livrar o Brasil da
possibilidade de ascenção de classes menos favorecidas, discurso disfarçado por ideais nacionalistas, paira sobre as elites e os "guerreiros" encarregados de manter seus privilégios.

O conflito que se desenvolve em torno da dermarcação da reserva contínua Raposa Serra do Sol, em Roraima, toma ares e contornos de um movimento golpista de cunho claramente identificável como fascista, separando a sociedade por castas, definidas como as que devem assimilar e as que devem ser assimiladas "É necessário integrar os índios na nossa sociedade".

Essa frase é emblemática, pode facilmente ser interpretada como " vamos por esses vagabundos para trabalhar", ou "não podemos ceder territórios para raças inferiores". Tais manifestações não podem encontrar reflexo na sociedade, mas infelizmente são reproduzidas dia e noite pela mídia corporativa, como se vivêssemos um grande perigo com tais "repúblicas de não-brasieleiros" em nosso território. Para os que não se recordam, a primeira e mais forte estratégia de conquista fascista é a disseminação de medos irracionais ao que pode parecer diferente.

Para o General Gilberto Figueiredo, a cultura indígena deve ser destruída para a manutenção da latifundiária. Um dia eles ainda condecoram Quartieros.

Abaixo o texto "Raposa Serra do Sol, luta antifascista" de Paulo Maldos do Conselho Indigenista Missionário, para a Agência Brasil de Fato.

Raposa Serra do Sol, luta antifascista

Os indígenas não pretendem proclamar vencedores os que invadiram suas terras. Ao contrário, estão enfrentando no STF mais uma batalha desta guerra secular

Paradigma da democracia
A luta em defesa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol tornou-se paradigma da defesa da diversidade étnico-cultural do Brasil, trazendo em si a luta por um novo projeto de Nação, caracterizado pela democracia política, pela igualdade social e pelo respeito à alteridade.

Esta luta é depositária das grandes mobilizações sociais dos anos 70 e 80, do combate à ditadura militar, das buscas pela redemocratização do país, da participação indígena e popular na Constituinte e na própria elaboração da Constituição de 1988.

A luta contra a Terra Indígena Raposa Serra do Sol traz em si seu oposto, ou seja, a defesa do projeto autoritário da ditadura militar, caracterizado pela utilização do Estado como instrumento de opressão de classe, da intolerância com relação ao diferente, de propagação da ideologia fascista.

O fascismo atualmente vem reaparecendo, como uma atitude reativa das elites internacionais e nacionais às lutas indígenas, populares e antiimperialistas em diversas partes do mundo.

São seus seguidores os políticos neoconservadores, os “neocons” norte-americanos, defensores da “guerra total” no Oriente Médio, no Iraque e no Afeganistão; antes defensores do apoio irrestrito às ditaduras militares na América Latina, da guerra nuclear mundial e da “solução final” contra o povo vietnamita, através do bombardeio atômico do antigo Vietnã do Norte.

São seus seguidores os membros da direita européia, racista e xenófoba, dedicada tenazmente a explorar, por um lado, e a segregar, localizar, prender e expulsar os imigrantes dos países pobres, principalmente africanos.

Outros seguidores estão nos países latino-americanos, nos quais os povos indígenas e setores populares estão avançando em conquistas sociais e políticas significativas, tais como Bolívia, Equador, Venezuela e, recentemente, Paraguai. Nestes países, antigos grupos oligárquicos retomam o discurso violento e preconceituoso e buscam rearticular forças civis e militares para bloquear os avanços da luta indígena e popular.

Seguidores ainda se encontram no Brasil, reativos frente aos avanços democráticos, quer seja devido à questão da demarcação das terras indígenas, quer seja devido ao debate sobre a imprescritibilidade dos crimes de tortura cometidos por agentes da repressão durante o regime militar.

Paradigma do fascismo
O movimento histórico em curso nos faz pensar sobre os paradigmas do fascismo e suas características ideológicas. E o caso paradigmático do fascismo encontramos na Guerra Civil Espanhola (1936 -1939).

Em 1936 a Espanha vivia um rico e diverso processo de lutas, tanto no campo como nas cidades, onde a República encarnava os sonhos de milhões de trabalhadores, portadores de uma grande diversidade de culturas e de orientações políticas de cunho revolucionário. A reação fascista aglutinou os setores mais reacionários da sociedade espanhola. Seu extremismo obscurantista levou-os a criar a palavra de ordem “Viva a morte!”, como bandeira contra os ideais republicanos.

Miguel de Unamuno, filósofo e reitor da Universidade de Salamanca, respondeu aos fascistas afirmando: “Há circunstâncias em que calar é mentir. Acabo de ouvir um grito mórbido e destituído de sentido: Viva a morte! Este paradoxo bárbaro é-me repugnante... Infelizmente, há hoje na Espanha doentes a mais. Um doente que não tem a grandeza de espírito de um Cervantes procura normalmente alívio nas mutilações que pode causar à sua volta”.

Democracia versus fascismo

A luta antifascista é a defesa da democracia e da diversidade sócio-cultural contra a rigidez e o monolitismo ideológico, que sempre enxerga no diferente um inimigo perigoso.

Nos últimos meses, Raposa Serra do Sol tornou-se símbolo das diversas tradições indígenas e camponesas do Brasil no embate com os invasores plantadores de arroz e seus apoiadores militares, símbolos da homogeneidade imposta pelo poder econômico.

É a luta dos cultivos indígenas milenares e das sementes crioulas familiares frente às sementes transgênicas, transposta para o campo da política e da cultura. Em sentido oposto, a semente transgênica estéril “terminator” é a transposição do grito “viva a morte!” para o campo dos cultivos agrícolas.

A combatividade dos povos de Espanha se manifestou nas batalhas corpo a corpo, casa a casa, território a território, cidade a cidade, região a região, até o último combatente republicano. O antifascista Negrin afirmou então: “Uma guerra só se perde se a considerarmos perdida. É o vencido que proclama o vencedor.”

As lideranças de Raposa Serra do Sol lançaram neste mês de agosto a Campanha “Anna Pata, Anna Yan” (Nossa Terra, Nossa Mãe) Resistir até o último índio.

Os povos indígenas não pretendem proclamar vencedores os que invadiram suas terras. Pelo contrário, estão enfrentando, no Supremo Tribunal Federal, apenas mais uma batalha desta guerra que já é secular.

Para o bem das nossas lutas por um Brasil democrático e plural, onde não caibam o fascismo nem a intolerância frente ao diferente.

Diário Gauche: Vendem-se imóveis (e almas)

Diário Gauche:



Apareceu o anúncio da casa: R$ 1.450.000,00

Hoje o advogado Pedro Ruas, representando o P-SoL, irá entregar ao Tribunal de Contas do Estado, cópia da revista Imóvel Class (março de 2006), onde consta o anúncio (acima) da venda do imóvel que depois foi adquirido pelo casal Crusius, em 6 de dezembro de 2006, poucos dias antes de Yeda Rorato Crusius tomar posse como governadora do Rio Grande do Sul.


Na revista especializada, a casa estava sendo anunciada por R$ 1,45 milhão, mas a governadora assegura (sem provas) que pagou apenas 750 mil reais, ou menos da metade do preço anunciado.


Até hoje, o casal Crusius não conseguiu explicar como foi essa simples (ou complexa) aquisição imobiliária. Para defendê-la das acusações, a governadora tucana contratou um advogado não especializado em direito imobiliário, mas um criminalista, Paulo Olímpio de Souza.

Texto extraído do blog Diário Gauche

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Ontem, mostras de submissão ao capital. Hoje, mostras de totalitarismo.



Causou grande surpresa ontem, o fato de o Psol ter aceitado um "mimo" de cem mil reais do grupo Guerdau, ação vista como a perda da "virgindade moral" do Partido, que surgiu como alternativa "de esquerda" ao PT, que teria se vendido ao grande capital, negociado com empresários e traído a classe trabalhadora.

Hoje, outra ação do PSOL surpreende mais uma vez pela contradição ao seu discurso. Entraram com ação impugnando o programa de rádio e tv do PSTU, que citava esse fato.

Marco Aurélio Weissheimer, do Blog RS URGENTE publicou e-mail recebido da candidata Vera Guasso, do PSTU a prefeitura de POA, comentando essa situação:

PSOL cassa programa eleitoral do PSTU sobre financiamentos de campanhas eleitorais

Recebo e-mail de Vera Guasso (PSTU), candidata da Frente de Esquerda (PSTU-PCB) à prefeitura de Porto Alegre, comunicando que o PSOL cassou o programa eleitoral do PSTU sobre financiamento das campanhas eleitorais. Ela afirma:

“Fomos surpreendidos por uma decisão liminar da Justiça Eleitoral, solicitada pelo PSOL, suspendendo o programa eleitoral do PSTU que iria ao ar às 20h30min dessa quarta-feira, 27/08, repetindo o mesmo material que foi ao ar nesse mesmo dia às 13h. O conteúdo desse programa expressa uma denúncia da nossa candidatura contra a perda de independência política das candidaturas que gastam milhões em suas campanhas eleitorais financiadas por grandes empresários. As grandes empresas posteriormente cobram a conta exigindo favores do poder público, atuam como agentes de corrupção e exemplos temos as centenas. Temos também o exemplo vivo do PT que trocou seu programa para ficar de bem com o empresariado e tem traído as lutas históricas dos movimentos sociais”.

"Nesse programa relatamos um fato irrefutável: O PSOL aceitou cem mil reais da Gerdau, uma das maiores empresas multinacionais do ramo do aço no mundo. Essa decisão coloca em risco a independência política também desse partido. Achamos a decisão do PSOL de aceitar esse recurso, um profundo equívoco concordando com a opinião de muitos militantes desse partido. Não entendemos que a candidata Luciana Genro que já teve cassados seus panfletos de campanha ao denunciar fatos grave de outros partidos, agora use do mesmo subterfúgio para cassar a opinião de um partido com tradição nas lutas sociais que denunciou um fato verídico”.

Sobre os impérios e os imperialistas.



A noção de potência hegemônica, aplicada aos Estados Unidos, não serve mais como parâmetro para um debate sério sobre a conjuntura política mundial.

A tentativa estadunidense de criar uma base de operações na República da Geórgia, acabou indo por terra frente ao exército russo. A geopolítica mundial tem novos protagonistas. Não temos um império, que seria exatamente a potência hegemônica, capaz de levar a cabo todas as suas aventuras bélicas, sem ter a oposição de adversários a altura. Voltamos ao cenário do pré guerras da segunda e quarta década do século passado. Potências imperiais disputando territórios ou zonas de influência.

A Russia, a China, a União Européia e os Estados Unidos posicionam suas armas para um novo período de tensões ou de estabilidade mundiais, uma vez que terão de disputar posiçõs e tomar cuidado com as aventuras que podem gerar retaliações do outro campo.

É esse o tema que Immanuel Wallerstein, diretor do Centro Fernand-Braudel, em Binghamton, e pesquisador associado da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, relata em seu texto "Ai dos Que Crêem no Imperio", que publico abaixo:

Ai dos que crêem no Império

Ainda que muito breve, a guerra entre Geórgia e Rússia revelou algo chocante para o pensamento convencional. Menos de vinte anos após vencerem a Guerra Fria, os EUA já perderam a condição de poder mundial solitário. Na verdade, deixaram até mesmo de ser superpotência...

Immanuel Wallerstein

(23/08/2008)

O mundo assistiu a uma mini-guerra no Cáucaso este mês. A retórica, embora apaixonada, foi muito irrelevante. A geopolítica é uma série gigantesca de jogos de xadrez a dois, nos quais os jogadores buscam vantagens de posição. Nestes jogos, é crucial saber as regras que permitem os movimentos. Cavalos não podem mover-se em diagonal.

De 1945 a 1989, o principal jogo de xadrez era jogado entre os Estados Unidos e a União Soviética. Era conhecido como Guerra Fria, e as regras básicas eram chamadas “Yalta”. A mais importante delas dizia respeito à linha que dividia a Europa em duas zonas de influência. Foi chamada por Winston Churchill de “Cortina de Ferro” e ia de Stettin a Trieste. A regra era: não importava quanto conflito fosse provocado na Europa pelos peões, eles não deveriam provocar uma guerra real entre os Estados Unidos e a União Soviética. E ao fim de cada episódio de conflito, as peças deveriam retornar para os postos de onde haviam saído. Esta regra foi observada meticulosamente até o colapso do comunismo em 1989, episódio marcado notoriamente pela destruição do muro de Berlim.

É perfeitamente claro, como todo o mundo observou na época, que as regras de Yalta foram revogadas em 1989, e que o jogo entre os Estados Unidos e a Rússia (a partir de 1991) mudou radicalmente. O maior problema desde então é que os Estados Unidos não compreenderam bem as novas regras. Eles proclamaram a si próprios — e foram proclamados por outros — a superpotência solitária. Em termos de regras de xadrez isto foi interpretado como se os estivessem livres para mover-se pelo tabuleiro da forma que bem entendessem. E, em particular, para trazer os antigos peões soviéticos para sua esfera de influência. Sob o governo Clinton, e de forma mais espetacular sob o de George Bush, os Estados Unidos foram levando o jogo dessa forma.

Havia um único problema: os Estados Unidos não eram a superpotência solitária; e sequer, uma super-potência. O fim da Guerra Fria fez com que deixassem de ser uma das duas superpotências, para se tornarem um Estado forte, em uma redistribuição verdadeiramente multilateral de poder real, no sistema inter-estatal. Muitos países grandes são agora capazes de jogar os seus próprios jogos de xadrez sem ter de pedir licença às duas super-potências de outrora. E eles começaram a fazer isso.

Derrotada a União Soviética, Clinton age para conquistar seus peões e ampliar a OTAN. Mas o grande delírio veio com Bush, que renegou acordos, invadiu o Iraque e quis controlar a Ásia Central

Duas grandes decisões geopolíticas foram tomadas nos anos de Clinton. Primeiro, os Estados Unidos forçaram bastante, e foram relativamente bem-sucedidos, para incorporar os antigos satélites soviéticos do Leste Europeu à OTAN. Tais países estavam ansiosos por este ingresso, ainda que os Estados-chave da Europa Ocidental — Alemanha e França — relutassem de algum modo. Percebiam que a manobra norte-americana também os transformava em alvo, ao limitar a liberdade de ação geopolítica que recém haviam adquirido.

A segunda decisão estratégica norte-americana era tornar-se parte ativa nos realinhamentos de fronteiras na antiga República Federal da Iugoslávia. Isto levou-os a sancionar — e reforçar, com suas tropas — a secessão de facto do Kosovo em relação à Sérvia.

Mesmo sob Yeltsin, a Rússia sentia-se descontente com estas duas iniciativas geopolíticas norte-americanas. No entanto, a desordem politica e econômica naqueles anos era tão grande que o máximo que podiam fazer era reclamar — deve-se dizer que de um modo um tanto débil...

George W. Bush e Vladimir Putin assumiram o poder mais ou menos simultaneamente. Bush decidiu levar adiante as táticas da potência solitária (em que os Estados Unidos decidem por si mesmos como mover suas peças) com muito mais audácia do que Clinton havia feito. Em 2001, recuou do tratado anti-mísseis assinado com a União Soviética, em 1972. Depois, anunciou que os Estados Unidos não se prontificariam a ratificar os novos tratados assinados por Clinton em 1996; o Tratado de supressão dos testes nucleares [Compreensive Test Ban], e as mudanças acordadas para o tratado de desarmamento nuclear SALT II. Para completar, comunicou que Washington manteria seu projeto de militarização do espaço, conhecido como "escudo anti-mísseis".

E, é claro, Bush invadiu o Iraque em 2003. Como parte deste envolvimento, os Estados Unidos vislumbraram e obtiveram direitos às bases militares e de sobrevôo nas repúblicas da Ásia Central — que anteriormente faziam parte da União Soviética. Além disso, promoveram a construção de óleodutos e gasodutos que procuravam tornar desnecessários os sistemas russos. E finalmente entraram em acordo com a Polônia e a República Tcheca para estabelecer pontos de defesa de mísseis, sob alegação de defesa contra o Irã. A Rússia, porém, os viu como voltados contra si.

Duas causas imediatas explicam a guerra. Diante da independência do Kosovo, a Rússia reivindicou direitos iguais. E, sem exército, Saakshvilli acreditou no conto do poder unilateral de Washington

Putin estava disposto a resistir com mais força que Yeltsin. Como jogador prudente, porém, ele se preocupou primeiro em fortalecer sua base, restabelecendo a autoridade central e revigorando o aparato militar russo. Neste período, as marés da economia mundial mudaram, e a Rússia tornou-se de repente um rica e poderosa controladora de reservas e linhas de abastecimento de petróleo e gás natural, dos quais os países ocidentais dependem fortemente.

O presidente russo começou começou a agir. Negociou acordos com. Manteve relações próximas com o Irã. Começou a pressionar os Estados Unidos para fora das bases militares na Asia Central. E se posicionou firmemente contra a extensão da OTAN em duas zonas estratégicas: Ucrânia e Geórgia.

O colapso da União Soviética deflagrou movimentos separatistas em diversas de suas antigas repúblicas, inclusive a Geórgia. Quando, em 1990, a Geórgia buscou acabar com o status de autonomia das zonas étnicas não-georgianas, estas imediatamente proclamaram-se Estados independentes. Não foram reconhecidos, mas a Rússia garantiu sua autonomia.

As causas imediatas para a mini-guerra destes dias têm dupla origem dupla. Em fevereiro, Kosovo institucionalizou sua autonomia de facto. Este movimento foi apoiado por e reconhecido pelos Estados Unidos e por boa parte dos países europeus. A Rússia alertou, na época, que a lógica deste movimento aplicava-se igualmente às secessões de facto nas antigas repúblicas soviéticas. Na Geórgia, a Rússia agiu imediatamente, pela primeira vez, reconhecendo a independência de jure da Ossétia do Sul, em resposta direta aos fstos em Kosovo, Em abril, os Estados Unidos propuseram, durante reunião da OTAN, que a Geórgia e a Ucrânia fossem recebidas, em um plano de adesão chamado Membership Action Plan. Alemanha, França, e o Reino Unido opuseram-se a isso, alegando que seria uma provocação à Rússia.

Neoliberal e fortemente pró-Washington, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, estava agora desesperado. Ele deu-se conta de que a reafirmação da autoridade georgiana na Ossétia do sul (e na Abkházia) poderia perder-se para sempre. Aproveitou-se de um momento em que a Rússia estava supostamente desatenta (Putin, agora primeiro-ministro nas Olimpíadas; o presidente Dmitri Medvedev de férias) para invadir a Ossétia do Sul. Seu exército fracassou completamente, como era de esperar. Mas Saakashvili imaginou que estivesse forçando a mão dos EUA (aliás, da Alemanha da França também).

Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá

Ao invés disso, ele teve uma resposta imediata da força militar russa, que esmagou a pequena armada georgiana. De George W. Bush, obteve retórica. Mas afinal de contas, o que Bush poderia fazer? Os Estados Unidos não são uma super-potência. Suas forças armadas estão atoladas em duas guerras sem perspectivas no Oriente Médio. E, mais importante que tudo, eles precisam muito mais da Rússia do que o contrário. O ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, frisou, num artigo publicado pelo Financial Times, que a Rússia é um "parceiro do Ocidente no Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte”.

A Rússia também controla, em essência, o abastecimento de gás da Europa Ocidental. Não por acaso, foi o presidente Sarkozy da França — e não Condolezza Rice — quem negociou a suspensão do conflito. No acordo firmado entre os dois países, a Geórgia faz duas concessões essenciais. Compromete-se em não mais utilizar a força contra a Ossétia do Sul, e aceita um documento que não faz nenhuma referência a sua integridade territorial.

A Rússia saiu, portanto, muito mais forte que antes. Saakashvili apostou tudo o que tinha e está agora geopoliticamente falido. Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá. Estas tropas jogaram um papel importante nas áreas xiitas, e agora precisam ser substituídas por tropas norte-americanas, que terão que deixar outras áreas.

Quem joga o xadrez geopolítico precisa conhecer suas regras. Do contrário, corre o risco de ficar emparedado.


Texto publicado originalmente na página do jornal Le Monde Diplomatique.

Grileiro provocador

Diário Gauche:

Que imposto, cara pálida?

Provocação barata de Paulo César Quartiero, arrozeiro e grileiro de terras públicas, depois do voto do ministro Carlos Ayres Britto, ontem, no STF:

“Como é difícil ser produtor rural neste país, e o que eu sinto mais vergonha na minha vida é que eu pago imposto para sustentar um monte de gente”.

Questionado sobre a afirmação de Quartiero, o ministro Ayres Britto disse que os produtores são beneficiados com isenção fiscal.

“Até onde eu sei, os rizicultores de Roraima têm isenção de ICMS, oferecida pelo governo do Estado até 2018”, argumentou Ayres Britto.

Ministro Ayres Britto vota favorável a demarcação



A disputa que se construiu em torno da demarcação da eserva contínua Raposa Serra do Sol, que está sendo julgada no Supremo Tribunal Federal, tem um capítulo favorável aos povos indígenas na bela defesa feita pelo ministro Ayres britto.

O Ministro é o relator da ação que pede a demarcação de forma contínua, sem "ilhas de arroz", como quer o governo de Roraima e entidades de classe dos arrozeiros. De acordo com Britto, as terras em disputa são de posse da união e não poderiam ser cedidas a particulares como aconteceu nos anos 90. Os grilheiros e posseiros deverão ser retirados da área para a efetivação da demarcação da reserva.

Afirma ainda que "O ato de demarcação foi meramente declaratório de uma situação jurídica preexistente, de direito originário sobre as terras. Preexistente à própria Constituição e à transformação de um território em estado-membro”

Desmistificou alguns laudos antropológicos que falavam em expansão artificial de comunidades indígenas:
“Toda metodologia antropológica foi observadada pelos profissionais que detinham competência para fazê-lo. O estado de Roraima teve participação assegurada no grupo de trabalho da Funai. Não se confirma a informação de que houve expansão artificial de malocas. A extensão da área é compatível com as coordenadas constitucionais, e as características geográficas da região contra-indicam uma demarcação restritiva.”

Foi um importante avanço, na condução da demarcação de terras originalmente pertencentes a esses povos, que por princípios morais não deveriam estar sujeitos a decretos ou decisões judiciais para manter seu direito primordial à existência, sem a assimilação por culturas invasoras.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A revista "Veja" pelo chargista Santiago

Santiago

"Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita"

Para comprovar o que escreveu o jornalista Ayrton Centeno, em seu texto "O Grande Nada", que publiquei nesse blog no último dia 25, o partido do "Nadismo" toma conta do cenário político nacional. Não há diferenças ideológicas claras entre os partidos que se apresentam como opções de mudança (todos tem esse jargão em comum).

Hoje o fato que mais chama a atençao no cenário político nacional foi a perda da "virgindade moral" do PSOL. O partido, que se apresentava como alternativa de esquerda e socialista, recebeu vultuosa contribuição para a campanha eleitoral de Porto Alegre do grupo Guerdau.

O diretório municipal do partido abraçou a doação com receio de manter o Psol no isolamento e no ostracismo. Em suma para dar um gás na campanha de Luciana Genro na Capital.

Aqueles que há poucos anos surgiram como o novo, a única alternativa de esquerda no país, dobram-se diante da primeira oferta do grande capital, já que no capitalismo, não se aplica dinheiro para perder, espera-se retorno de todos os investimentos, inclusive dos que são feitos na "bolsa dos partidos políticos". O bom e velho "toma lá da cá" dos financiamentos de campanha, que acabam por comprometer o político ou partido a retribuir de alguma forma pela ajuda financeira recebida na campanha.

No link abaixo, matéria publicada no RS URGENTE sobre a ruptura do hímem do PSOL, bem como a reação do Diretório Nacional do Partido e abaixo assinado de militantes contra a iniciativa da esfera Porto Alegrense. O texto pode ser lido aqui.

O texto "O Grande Nada", de Ayrton Centenno, pode ser lido mais abaixo.

Heinze quer flexibilizar a lei que pune crimes ambientais


O porta voz do latifúndio na Câmara, o Deputado gaúcho Luis Carlos Heinze declarou ser favorável ao "afrouxamento" da legislação ambiental, mais específicamente do decreto 6.514, de 22 de julho de 2008, que tornou mais abrangente a lei dos crimes ambientais. Entidades ligadas ao agronegócio e a bancada do latifúndio do Congresso pretendem contornar esse obstáculo à expansão do agronegócio e a potencialização de seus lucros.

Heinze afirma que pretende "alterar os artigos que atingem a agricultura brasileira e também ampliar o debate sobre a legislação como um todo, de modo que seja priorizada tanto a conservação ambiental, como o setor agrícola”.

Esse "tanto um como o outro" é no mínimo contraditório, uma vez que, da forma como se apresenta a legislação, o "agronegócio" já vem devastando o meio ambiente a largos passos, seja através da cultura de árvores "alienígenas" a uma região ou com a pura e simples derrubada de florestas, para dar lugar a pastagens ou lavouras de soja e arroz. Dá bem pra imaginar como vai ser com essa "flexibilização".

Se tais mudanças forem aprovadas, teremos uma epécie de "licensa para devastar", livre de processos ou multas, ou com a flexibilização desses, por todos os que se julgarem economicamente prejudicados pelo bioma local.

A proposição é contrária a todos os movimentos que lentamente ganham força, no sentido de frear com a destruição de nosso meio, a drástica alteração climática e o aquecimento global, levadas a cabo por várias entidades da sociedade civil organizada. É uma pá de cal nas pretensões daqueles que se preocupam com um desenvolvimento sustentável e com a preservação do meio ambiente.

Uma "nova" correlação de forças no mundo



Para aqueles que afirmavam de forma categórica que a guerra fira tinha acabado, os eventos dos últimos dias devem ter virado suas teorias pelo avesso. A Rússia tenta retomar a sua posição como potência imperialista mundial, retomar antigos territórios, e responde de forma muito forte ás agressões estadunidenses que tem sofrido nos últimos anos.

Após a definição da Polônia, pela inlação dos "escudos anti-mísseis" dos Estados Unidos, e diante da ameaça de ter a Otan praticamente dentro de seu "quintal" (Geórgia), aRússia reagiu de forma contundente, invadindo e destruindo o exército georgiano, de forma rápida e impiedosa, num claro desafio às grandes potências ocidentais.

A análise a seguir é do cientista político e professor José Luís Fiori, e evidencia uma clara mudança na correlação das forças imperiais de hoje.


Guerra e Paz

A guerra na Geórgia não é uma guerra antiga, pelo contrário, é um anúncio do futuro. A Rússia foi a grande perdedora da década de 90 e, ao contrário do que diz o senso comum, será a grande questionadora da nova ordem mundial, qualquer que ela seja, até que lhe devolvam - ou ela retome - o seu velho território.

“A guerra nunca deflagra subitamente: a sua extensão não é obra de um instante”.
Carl Von Clausewitz, Da Guerra, Martins Fontes, São Paulo 1979 [1832] p: 77

Os fatos mais recentes, e importantes, são conhecidos. No mês de abril de 2008, a última reunião de cúpula da OTAN, na cidade de Bucareste, reconheceu a aspiração da Geórgia de participar da aliança militar liderada pelos EUA, apesar da resistência alemã, e da oposição explícita do governo russo. E no dia 11 de julho de 2008, aviões da Força Aérea Russa sobrevoaram o território da Ossitéia do Sul, na véspera da vista à Geórgia, da secretária de estado norte-americana Condollezza Rice, para inaugurar, no dia 15 de julho, à operação “Resposta Imediata 2008”: um exercício militar conjunto do exército norte-americano, com as tropas da Geórgia, Ucrânia, Armênia e Azerbaijão, realizado na Base Aérea de Vaziani, que havia pertencido à Força Aérea Russa, até 2001. Logo em seguida, no dia 8 de agosto de 2008, as Forças Armadas da Geórgia atacaram a província da Ossétia do Sul, e conquistaram sua capital, Tskhinvali.

Não está claro por que a Geórgia atacou a Ossétia do Sul, exatamente no dia da inauguração das Olimpíadas chinesas. Mas não há dúvida que a grande surpresa dos governos envolvidos nesta história, foi a rapidez, extensão e eficácia da resposta russa, que em poucas horas, cercou, dividiu e atacou - por terra, mar e ar - o território da Geórgia, numa demonstração contundente, de decisão política, organização militar, e poder de conquista. Tudo feito com tamanha rapidez e agilidade que deixou os governos “ocidentais”, perplexos, divididos e impotentes, obrigados a acompanhar os desdobramentos da ofensiva russa, hora a hora, através de fatos consumados, sem conseguir saber ou poder antecipar o seu objetivo final.

Logo depois da Segunda Guerra Mundial, Hans Morgenthau, pai da teoria política internacional norte-americana, formulou uma tese muito simples e clássica, sobre a origem das guerras. Segundo Morghentau: “a permanência do status de subordinação dos países derrotados numa guerra, pode facilmente produzir a vontade destes países desfazerem a derrota e jogarem por terra o novo status quo internacional criado pelos vitoriosos, retomando seu antigo lugar na hierarquia do poder mundial. Ou seja, a política imperialista dos países vitoriosos tende a provocar uma política imperialista igual e contrária da parte dos derrotados. E se o derrotado não tiver sido arruinado para sempre, ele quererá retomar os territórios que perdeu, e se possível, ganhar ainda mais do que perdeu, na última guerra” .

Em 1991, depois do fim da Guerra Fria, não houve um Acordo de Paz, que estabelecesse as perdas da URSS, e que definisse claramente as regras da nova ordem mundial, imposta pelos vitoriosos, como havia acontecido no fim da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais. De fato, a URSS não foi atacada, seu exército não foi destruído e seus governantes não foram punidos, mas durante toda a década de 90, os EUA e a UE apoiaram a autonomia dos países da antiga zona de influencia soviética, e promoveram ativamente o desmembramento do território russo. Começando pela Letônia, Estônia e Lituania, e seguindo pela Ucrânia, a Bielorússia, os Bálcãs, o Cáucaso e os países da Ásia Central.

Neste período, os EUA também lideraram a expansão da OTAN, na direção do leste, contra a opinião de alguns países europeus. E mais recentemente, os EUA e a UE apoiaram a independência do Kosovo, aceleraram a instalação do seu “escudo anti-mísseis”, na Europa Central, e estão armando e treinando as forças armadas da Ucrânia, da Geórgia e dos países da Ásia Central, sem levar em conta que a maior parte destes países pertenceu ao território russo, durante os últimos três séculos. Em 1890, o Império Russo, construído no século XVIII, por Pedro o Grande e Catarina II, tinha 22.400.000 Km2 e 130 milhões de habitantes. Era o segundo maior império contíguo da história da humanidade, e era uma da cinco maiores potencias da Europa.

No século XX, durante o período soviético, o território russo se manteve do mesmo tamanho, a população chegou a 300 milhões de habitantes, e a Rússia se transformou na segunda maior potência militar e econômica do mundo. Pois bem, hoje a Rússia tem 17.075.200 km 2 e apenas 152 milhões de habitantes, ou seja, em apenas uma década, a década de 1990, a Rússia perdeu cerca de 5 .000.000 km2 , e cerca de 140 milhões de habitantes.

A maior parte dos analistas internacionais que se dedicam a prever o futuro se esquecem – em geral - que os grandes vitoriosos de 1991, não foram apenas os EUA, foram os EUA, a Alemanha e a China. Numa virada histórica onde só houve um grande derrotado, a URSS, cuja destruição trouxe de volta ao cenário internacional, uma Rússia mutilada e ressentida. A Alemanha e a China ainda tomarão muitos anos para “digerir” os novos territórios e zonas de influência que conquistaram, nas últimas décadas, na Europa Central e no Sudeste Asiático. Enquanto isto, o desaparecimento da União Soviética colocou a Rússia na condição de uma potência derrotada, que perdeu um quarto do seu território, e metade de sua população, mas que ainda mantém de pé o seu armamento atômico, e o seu potencial militar e econômico, junto com uma decisão cada vez mais explícita “de desfazer a derrota, e jogar por terra o novo status quo internacional criado pelos vitoriosos (em 1991), retomando seu lugar na hierarquia do poder mundial”.

Por isto, neste início do século XXI, a Rússia é um desafio e uma incógnita, para os dirigentes de Bruxelas e de Washington e para os comandantes militares da OTAN. Quando na verdade, o mistério não é tão grande, e se Hans Morghentau estiver com a razão, se trata de um segredo de Polichinelo: a Rússia foi a grande perdedora da década de 90, e ao contrário do que diz o senso comum, será a grande questionadora da nova ordem mundial, qualquer que ela seja, até que lhe devolvam - ou ela retome - o seu velho território, conquistado por Pedro o Grande e Catarina II. Por isso, a atual guerra na Geórgia não é uma guerra antiga, pelo contrário, é um anúncio do futuro.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Grande Nada

Esse post, extraído do blog RS URGENTE, retrata a desilusão de muitos dos que acreditavam em profundas transformações políticas, na práxis política inclusiva, não no sentido meramente no campo econômico como se fala atualmente, mas no social, histórico e num sentido de aperfeiçoamento dos "valores sociais".

Vivemos um quadro sinistro, onde não podemos reconhecer diferenças programáticas entre os diferentes grupos políticos. Não temos mais referências. Nossos teóricos ou pensadores estão alinhados com um campo político ou outro, sem conseguir estabelecer uma clara diferença entre eles. As lideranças, tanto de direita como de esquerda estão dividindo gabinetes (e valore$), adentrando cada vez mais em um perigoso consenso, onde o importante é garantir a "governabilidade" ou destruir o governo eleito para que outro campo "político" chegue até seus postos.

A direita golpista, aliada da última ditadura, hoje se denomina "democrata ou progressista". O antigo Partido Comunista, hoje não ousa pronunciar o próprio nome. A social democracia lucupletou-se com o público, tornando-o parte de suas polpudas contas bancárias, ou formando os delinquentes que hoje a Polícia federal tenta prender. O presidente operário, lidrança nacional dos trabalhadores, hoje tenta limitar o direito de greve, que o projetou nacionalmente. E o pior é que encontra reflexo de sua política nas "esquerdas do mundo globalizado". Dessa forma começo a acreditar no Fim da História, de Francis Fukuyama, que afirmava que não mais haveriam transformações no mundo após a queda dos regime burocráticos do Leste Europeu, estabelecendo-se uma "nova ordem", de interpretações imperialistas.

No cenário descrito no texto de Ayrton Centeno, fala disso implicitamente, ao desnudar o terrível cenário da atual campanha eleitoral, assunto no qual não vou me deter, pois o texto fala bem melhor do que eu poderia descrever:


RS URGENTE: O Grande Nada
Após os primeiros dias de propaganda eleitoral na TV em Porto Alegre, o que emerge da tela é algo que, ao longo da minha não curta vida, nunca havia visto. A começar pela sensação de que não existem mais partidos. Ou talvez haja um só, o do Nadismo. O Nadismo é desmembrado em tendências bastantes sutis: o Nadismo radical e o Nadismo moderado, o Nadismo fisiológico e o Nadismo revolucionário, entre tantas. Nenhuma delas, porém, implica conflito com a outra. Convivem harmonicamente, já que desfraldam idêntico estandarte: a defesa convicta do Grande Nada.

No Partido Nadista, todas as correntes fraternalmente empunham as mesmas propostas: fazer um Porto mais Alegre, realizar o sonho de Porto Alegre, ou afirmar, intrepidamente e não sem um certo grau de temeridade, que amam o pôr-do-sol do Guaíba. E tome-lhe contraluzes do crepúsculo e jingles de uma pieguice que alguém mal humorado diria que soqueiam violentamente o baixo ventre do eleitor.

Outro fenômeno é a ausência completa da política. A política, esta coisa chata que fermenta o nascimento de tantos conflitos foi ejetada ao ostracismo. Presume-se que, antes da deflagração da campanha, os coordenadores dos diversos Nadismos, sabiamente aconselhados pela marquetagem, reuniram-se e decidiram dar um basta nessa história de política. Chega! Onde já se viu aborrecer as pessoas, num momento de civismo e exaltação da cidadania, com discussões tão desconfortáveis como, por exemplo, saber quem e por que apóia o (a) candidato (a) X e como este mesmo (a) candidato (a) se posiciona claramente diante dos problemas concretos, presentes ou futuros da cidade?

Claro que sempre haverá aquele eleitor inconveniente querendo, por exemplo, saber do candidato qual é exatamente, sem papas na língua, sua posição a respeito do estupro imobiliário planejado da orla do Guaíba na zona sul. São aquelas chateações que acabam se refletindo lamentavelmente na redução do aporte tão necessário dos desinteressados recursos empresariais para a produção de campanhas bonitas na TV. É um tipo de extremismo que o Grande Nada não pode tolerar. Discrepâncias, sim, até poderão ser tratadas. Afinal, é preciso contentar a todos e a nenhum. Nada é exatamente igual ao outro. O Nada é Uno mas também é Múltiplo. Há que ter esta flexibilidade.

Para tanto, a TV, de modo tão absorvente, já está proporcionando à atenta cidadania um debate profícuo. Que, claro, está centrado naquilo que os candidatos e seus programas democraticamente nos oferecem: a imagem, a fachada, o lado externo de suas candidaturas.

Será, sem dúvida, impactante discutir se a candidata A tornou-se mais merecedora do sufrágio agora depois da chapinha ou se era melhor antes com os cabelos crespos. Debater, conceitualmente, se o semblante sonâmbulo do candidato B é compatível com sua auto-propalada audácia e se seu ar letárgico, de fato, fomenta a esperança. Ou se a blusinha da candidata C combina, republicanamente, com os seus olhos cor de anil. Avaliar se houve progresso na lavourinha laboriosamente cultivada no topo do crânio pelo candidato D -- eu diria que não, mas você, caro (e)leitor, pode dizer que sim, que ela é intensamente produtiva e viçosa, atingindo índices de produtividade enaltecidos até pela Farsul. É seu direito. Ou, por outra, pode concordar comigo, mas responsabilizar a avara resposta da natureza à falta de apoio do Pronaf. Pronto, assim do Nada eis aí o debate instalado. Tão civilizado, tão estimulante, tão cidadão.

Templo do Grande Nada, a RBS ajudou sobremaneira na conversão dos candidatos que, um a um, vieram, genuflexos, queimar incenso no altar de Zero Hora. Um mergulho de profundidade cosmética no cotidiano dos concorrentes do qual emergimos enriquecidos pela informação de que um é papai coruja, que aquele sabe de cor as músicas da Disney, que outro adora cozinhar, que aquela foi obesa, que esta borda em ponto cruz, e que há ainda quem expresse sua rebeldia mesmo sem cachos e quem a faça através de brincos. Ufa!

Olívio Dutra sempre repetiu – e repete – aquele bordão que sintetiza boa parte do sentimento e das ações que Porto Alegre vivenciou especialmente nos anos 90. Aquele que afirma que, para construir uma nova e mais justa sociedade, é imprescindível que cada cidadão não seja objeto, mas sim sujeito da política. Sentiam-se e portavam-se como sujeitos, até então, somente os candidatos.

Porém, agora, neste ano da graça de 2008, largada de campanha, os candidatos é que abdicaram de serem sujeitos da política. Sua nova condição é a de objetos. Estão na TV como se estivessem na gôndola dos supermercados. Não têm história. Não porque a perderam, mas porque optaram por sepultá-la. Escolheram serem coisas. São produtos práticos e versáteis, adaptáveis a qualquer gosto ou ambiente. Desconstróem-se num palco de ilusões de olho no teleprompter dizendo um texto em que só eles acreditam (Acreditam?). Não parecem de carne e osso. Aparentam hologramas cambiantes e fugidios, projetados desde um passado longínquo e impreciso, repetindo palavras ocas que se desmancham no ar.

Quem é de esquerda apresenta uma narrativa – que carrega tanto de Nadismo quanto de ambição -- sonhando cabalar o voto não apenas do eleitor de centro sempre oscilante, mas até da direita. Esta, por sua parte, lança, além do centro do tabuleiro, piscadelas para o eleitor de esquerda. A conseqüência deste discurso aguado do qual a política foi exilada só poderia ser a superfluidade. Parte de nenhum lugar para lugar algum. A diferença é que a direita está na sua: este é o mundo que pedra por pedra levanta a cada dia. É o que temos. E o que nos esmaga. À esquerda caberia questioná-lo, expor a sua estreiteza, as suas contradições, a sua insuficiência e as suas vastas iniqüidades. Mas isto só se faz fazendo campanha além da epiderme. E quem faz isso são homens e mulheres, pessoas com história, com partido, com política e com diversas e divergentes visões da vida e do mundo. Não é uma tarefa para espectros.

Ayrton Centeno é jornalista.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O Macarthismo italiano. O "Berlusconismo".

Matéria extraída do site Terra Magazine, revela uma fantástica história, que revive os trágicos atos da "caça às bruxas", promovida nos EUA.


A mãe do comunista

Vera Gonçalves de Araújo
De Roma

A situação é de uma banalidade indiscutível: um casal divorcia, e briga pela guarda dos filhos. Tudo recheado por outro lugar-comum que todos os que já lidaram com filhos adolescentes conhecem muito bem: tolerância ou linha dura com o garoto? O pai de Marco (o nome é inventado, pois o garoto é menor de idade) considera a mãe fraca demais diante dos excessos do filho. Pede ao tribunal a guarda dos dois filhos menores - de 16 e 11 anos - enquanto a mais velha, 18 anos, optou pela convivência com a mãe.

A notícia fica menos corriqueira quando se descobre que o tribunal decidiu entregar a guarda dos filhos ao pai - coisa rara na Itália. Entre os motivos, o fato que Marco é comunista de carteirinha. Militante, desde os 14 anos, no partido de Refundação comunista.

O juiz que decretou a sentença em Catania, a segunda cidade mais importante da Sicília, afirma que o comunismo do garoto não influenciou sua decisão. Que se baseou num relatório dos assistentes sociais que pintaram um quadro bastante negativo das relações entre a mãe e seu filho adolescente. E que descreve Marco como um garoto que falta às aulas, ficou de segunda época em latim, grego e filosofia, sai todas as noites com os amigos, freqüenta "lugares em que são servidas bebidas alcoólicas e entorpecentes" ( = bares), "várias vezes passou a noite fora de casa, com a autorização materna". Enfim, Marco é o retrato falado de 90 por cento dos adolescentes italianos. Com um detalhe a mais: é comunista.

Até os ministros do governo de Silvio Berlusconi - o campeão do anti-comunismo - acham que o juiz foi um pouquinho exagerado. Mesmo porque o relatório dos assistentes sociais parece escrito nos anos 50 italianos, quando as mulheres que não eram "do lar" eram consideradas mães relapsas. A mãe de Marco é médica, perdeu a guarda dos filhos e ainda tem que pagar 200 euros por mês ao ex-marido, que ganha menos do que ela e é funcionário público. O pai fez uma xerox da carteirinha do partido comunista que encontrou no bolso do filho, como prova de juventude transviada.

Marco - dizem os colegas que o entrevistaram que ele é um rapaz bonito, simpático, desembaraçado, inteligente, que demonstra mais de seus 16 anos - declarou que não pretende ir morar com o pai, com quem briga todos os dias por vários motivos. Ele corre o risco de ser internado numa comunidade de reabilitação, apesar de ter apresentado uma certidão médica que prova que ele não se droga. Os advogados do pai afirmam que a certidão é falsa, e portanto o juiz pode decidir mandar Marco para uma comunidade, para se desintoxicar. Não está claro se o tóxico é a maconha ou o comunismo.


Nota do blogueiro:

O magnata dos meios de comunicação de massa e da corrupção italiana, Sílvio Berlusconi, parece ter contagiado com seu anti-comunismo, à todas as esferas do poder público do país. Condenar uma mãe por ser a genitora de um militante a perder a guarda do filho, por causa de sua "doença" é um ato que nem mesmo o senador Macarthy, em seus pensamentos mais doentios talvez fosse capaz de conceber.

Considerar uma opção política o equivalente à dependência química é um ato de uma nação tirânica, totalitária, onde o direito ao livre pensamento foi cercado pelo devaneio do ditador de plantão.

Imaginem se a moda pega.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cartunista censurado "solta o verbo".

O desenho censurado pelo governo Sérgio Cabral

A entrevista, a seguir, foi extraída do Blog Dialógico:

CARLOS LATUFF - Arte para Revolução
Sala lotada, treze pessoas com a atenção totalmente voltada para o desenhista Carlos Latuff, três horas de conversa. Perto do aniversário de 18 anos do Est
atuto da Criança e do Adolescente e de 15 anos da “Chacina da Candelária”, um dos desenhos de Latuff foi utilizado em outdoors na cidade do Rio de Janeiro. A iniciativa visava chamar a população para uma manifestação contra a violência policial. O governador considerou o desenho ofensivo e em quatro dias o outdoor foi recolhido. Para Latuff foi uma pequena vitória. É o que ele nos conta nessa entrevista histórica, a segunda que concede ao Fazendo Media impresso – republicada excepcionalmente aqui no fazendomedia.com.

Por Diego Novaes, Eduardo Sá, Fernanda Chaves, Gilka Resende, Leandro Uchoas, Lorena Bispo, Luana Bispo, Luis de Gonzaga, Marcelo Salles, Maubia Chaves, Raquel Junia, Sergio Santos e Tatiane Mendes.


Tem uma frase de maio de 68 que diz assim: “nunca mais volta a dormir aquele que uma vez abriu os olhos”. Quando é que você abriu os olhos?
Que frase bonita! Eu não sei, eu lembro que o processo se desencadeou com os Zapatistas mesmo [movimento Zapatista, do México]. Eu sempre tive um incômodo com a realidade que me cercava, mas eu nunca objetivei, eu tinha aquelas revoltas juvenis, aquela coisa de adolescente revoltado, aí depois que cresce baixa o fogo e vira yuppie, civiliza. Mas o golpe fatal fo
i na Palestina. Aliás, eu vou contar um negócio aqui que eu achei do caralho. Eu estava no computador e aí pipocou uma pessoa no meu MSN. Era a Laila de Rafa, em Gaza [Palestina] e abriu uma câmera. Ela passou toda a conversa com um sorriso de lado a lado. A mulher vive em Gaza, com bloqueio de comida, de medicamento, de combustível, de passagem física, de tudo, e a mulher sorriu à vontade porque estava me vendo. Eu pensei assim: ‘caralho, é como se você visse uma pessoa em Sarajevo com bomba caindo e a pessoa sorrindo porque está te vendo. Por quê, eu sou um homem bonito?’

Não, com certeza não.

(risos) É porque fazia diferença para ela e para as pessoas que ela conhece. Esse trabalho de cartunista fez tanta diferença para uma pessoa que mora em Gaza a ponto de ela esquecer onde ela está vivendo para ficar sorrindo só falando comigo. O que mais comove o palestino é uma pessoa que não é mulçumana, não é árabe, que mora longe, brasileiro, se colocar a favor do povo palestino.

Como foi que o seu desenho foi parar no outdoor aqui na cidade do Rio...
A princípio, eu e o Marcelo [Salles] conversamos muito sobre a produção de imagens que possam ser apropriadas pelo movimento social. Porque a intenção foi essa, a gente primeiro criou aquela imagem, discutiu e eu publiquei na internet e fiquei aguardando. A minha parte como produtor dessa imagem eu fiz, assumi o risco de fazer e assinar. Sempre quan
do produzo alguma coisa tenho esse pensamento de que esse desenho possa não ser circunscrito à internet ou a um jornal. Ele precisa ser copyleft [livre reprodução] e atingir um sem número de pessoas. Aí veio o representante do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente e falou que estava pensando em fazer um outdoor e usar um desenho meu. Eu falei: ‘Cara, eu já tenho um desenho pronto. Se não for pra pegar pesado nessa questão eu não vou fazer. Se for pra desenhar pombinha da paz, criancinhas alegres eu não vou fazer’.

Por que não?
Porque é babaquice, é o Viva Rio [ONG Viva Rio] fincar cruzinhas na praia, balãozinho vermelho... Isso aí não quer dizer porra nenhuma! Porque com isso você pede paz, mas não diz quem causa a guerra. É um troço vazio. E ele me perguntou o que é pegar pesado. Eu respondi: ‘é mostrar uma criança baleada, vítima dessa política, é mostrar sangue, violência, mas dentro de um contexto diferente desse que você vê no Rambo, no Tropa de Elite, entend
eu? Um contexto nosso, a realidade como é de fato.’ Aí ele falou para eu mandar o desenho. Eu mandei e não me responderam nada, pensei que o desenho tinha sido vetado.

É bom dizer o que tem no desenho...
É um policial diante de uma mãe negra abraçada a uma criança morta, também negra e baleada no peito. O garoto tem o uniforme de colégio e um caderno caído no chão. O policial está ao lado com um fuzil que acabou de atirar, ainda com a fumacinha no cano, no fundo tem uma favela e do outro lado tem um caveirão distribuindo tiro pra todo lado.

Então eles preferiram esse desenho à pombinha da paz...
É, me deixou satisfeito o Conselho ter a coragem de
bancar o desenho. Aí gerou toda aquela polêmica, o artigo de O Globo cita como uma imagem polêmica. Mas por quê? A realidade não é polêmica, a imagem é que é polêmica. Quando você mostra, choca; estranho, né? É a lógica da sociedade hipócrita e doente; tem certas coisas que a gente sabe que existem, mas não pode externar, não pode colocar numa imagem e mostrar.

Acho que é por causa da linguagem que alcança mais gente e é isso que incomoda...
Mas aquela imagem na verdade não é uma criação literária.

Por isso é que incomoda e teve toda essa reação deles.
Pois é. Por que polêmico se é um troço que todo mundo sabe que rola? Lembra aquela propaganda do Sprite “imagem não é nada, sede é tudo”? É exatamente o contrário, a imagem é tudo, a sede não é nada. A verdade não é nada, a imagem é que machuca e er
a isso mesmo que eu queria.

Você acha que foi alvo de censura?
Isso pra mim não é novidade nenhuma, a história mais recente foi aquela da camisa do Cauê no Pan [personagem criado para ser mascote dos Jogos Panamericanos no Rio. Latuff desenhou uma versão do Cauê com um fuzil na mão, representando a violência policial, e recebeu a visita da polícia em sua casa para explicar o desenho]. Você tem o fascismo clássico, o racismo clássico. Nós aqui na mesa temos duas meninas negras que podem até falar muito bem disso. Se eu, por exemplo, morar no Tennessee, o cara vai chegar na lata e falar ‘negra, fu
ck you negra!’, mostrando a camisa com o emblema da Ku Klux Klan. Nos Estados Unidos o negócio é descarado, na lata. Na África do Sul já era política de estado, tinha aquela coisa de colored people. No Brasil é um racismo cordial. Dizem: ‘Eu não sou racista, eu tenho um amigo que é preto. Eu não sou homofóbico, eu tenho um amigo que é viado’.

Ou então você é moreninho...
Moreninho. Essas historinhas que na verdade mascaram o racismo objetivo, mas ninguém chega e fala “eu sou racista”. O fascismo é assim também no Brasil, é cordial. Claro, se for na favela é diferente, é pé na porta e o caralho. Agora esse caso do outdoor, como foi feito por um Conselho do Estado e o cara que estava à frente é um desembargador [Siro Darlan] as co
isas se resolvem na base do telefonema. Se fosse um regime fascista clássico, tacava fogo no outdoor, invadia a empresa e dava porrada em todo mundo. Aqui eles não vão entrar e quebrar tudo, eles dão um telefonema para o dono - como em Israel, quando colocaram no Centro de Mídia Independente uma ilustração minha, que era o Ariel Sharon fazendo a saudação nazista. A polícia não chutou a porta da empresa de internet, deu porrada em todo mundo e tirou o site do ar. O cara ligou para o dono e falou assim: ‘Se você não tirar o site do ar a gente te mata’. Aí as coisas se resolvem, sabe...

Qual o papel da polícia na manutenção da ordem capitalista, tanto na política de segurança do governo Sergio Cabral, no Rio, quanto em outros governos baseados no extermínio?
Eu tenho certeza que o Sérgio Cabral é um cara que tem formação,
não é um cara idiota. Ele sabe direitinho sobre socialismo, sabe que esse problema, se é para ser resolvido de fato, vai ter que ser no âmago da questão, que é estrutural. Porque essa coisa de troca de tiro e partir para cima é enxugar gelo, ele sabe disso, mas ele sabe que não tem outra alternativa. Ele não quer e não vai solucionar o problema do capitalismo, ele não foi eleito para isso, então essas operações na verdade são pirotécnicas.

Eles não vão lá num banco da Suíça pegar o cara que está ganhando em cima do tráfico...
E também não vão a Brasília. Não vão pegar um juiz que está envolvido, não vão pegar graúdo, não vão pegar ninguém, porque aí vão atirar no próprio pé. Entra na questão sistêmica, ele não pode combater o sistema do qual ele saiu. É o Matrix, a gente vive as sensações, a de segurança é uma delas. O Josias Quintal, que foi o secretário de segura
nça aqui no Rio de Janeiro no governo Garotinho, deu uma declaração que eu nunca mais vou esquecer. Eles conseguiram um acordo com as Forças Armadas para colocar a Marinha nas ruas por certo período. Ele falou assim: ‘Eu estou muito satisfeito com esse convênio firmado com as Forças Armadas de colocar os soldados na rua porque isso dá à população a sensação de segurança’. É isso, não importa se existe a segurança, importa a sensação de segurança. Ele não vai dar segurança, porque para isso ele precisa atacar as questões sistêmicas e não tem condições de fazer isso.

E como a gente combate esse sistema?
Eu acho que o combate só quem pode dar é a esquerda, qualquer um que apresente uma solução fora da esquerda é maquiar o cadáver, é jogar perfume num monte de estrume. É melhorar o capitalismo, é novamente o discurso pós-moderno de que acabou a história, o muro caiu e não tem mais luta de classe, não tem mais esquerda e direita, é só o mercado que rege nossas vidas.

Você acredita na mudança do mundo?
Não, mas eu me comovo de ver como um povo pode ser resistente como o palestino. Como pode, meu Deus! E os filhos da menina [Laila, de Rafa] sorridentes, crianças lindas, meu Deus! Aí você abre o jornal e vê: ‘o palestino é o homem-bomba, o palestino é o terrorista’. Você vê a supra-realidade. ‘O palestino é isso, o palestino é aquilo, o favelado é o bandido’ E você abre a webcam e vê: puxa, ela põe um quadro na parede, ela tem uma vida, ela é de carne e osso, ela é gente, ela é humana. Como artista, eu acho que o que eu posso fazer são essas coisas, entendeu? Como o outdoor. Ficou quatro dias, mas já foi uma vitória.

Por que você não fala com a grande imprensa?
Porque se ela não for omitir, ela vai distorcer; então se for para me sacanear, os caras vão fazer isso sozinhos e não vão precisar da minha ajuda. Você acha
que O Globo faria isso que você está vendo aqui? Só se eu fosse o superstar da política e olhe lá. Aquela menina do Globo escreveu no artigo que eu não dou entrevista para a imprensa. É uma mentira, meu problema não é com a imprensa, é com essa imprensa. A imprensa corporativa, de rabo preso.

Como você define ser de direita?
É simples: é quando você privilegia o capital acima do social. Melhor definição: quando você dá mais importância ao capital em detrimento do social. Isso é
direita, isso é o capitalismo, isso é o neoliberalismo, isso é o pós-modernismo. Quando você privilegia o social em detrimento do capital, é o internacionalismo, é o socialismo, é o comunismo, é o anarquismo, é a esquerda.

Engraçado, ninguém se diz de direita. Não tem um que diga...
Não tem. Eu ainda sou mais o Le Pen [Jean-Marie, político francês da extrema direita]. Ele diz literalmente que é fascista. Ótimo, parabéns. Fica mais fácil a gente te combater. Agora, o cara do PFL vem dizer que é democrata?! Pena que essa discussão só fica entre a gente.

Que nada. Milhares de pessoas vão ler essa entrevista...

Que elas vão ler essa entrevista, não tenho dúvida. Se elas vão tomar alguma atitude a partir dela, é que eu não sei. Também não importa. Mas a gente tem que fazer. O que vai acontecer em seguida não importa. Tá bom pra vocês?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

E quem nos livrará do jornalismo das trevas de Veja?


Segue abaixo a manifestação da professora Maria da Conceição Carneiro Oliveira, em contraponto à matéria publicada no panfleto veja. do blog História em Projetos

E quem nos livrará do jornalismo das trevas de Veja?

Esta semana Veja reedita a cruzada iniciada por Kamel em setembro de 2007 contra os autores de livros didáticos de História. Desta vez, a revista símbolo dos neocons tupiniquins inclui em seus processos inquisitoriais travestidos de reportagens os professores de História e Geografia concluindo que são todos uns 'incompetentes', passadistas ultrapassados e maus-caráteres por 'incutir ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas nos alunos'.

Não há nada de novo na matéria de Veja que Kamel já não tenha feito e seus asseclas dado continuidade em matérias publicadas na Época, Estadão, Folha e afins em 2007.

Na reedição de Veja estão presentes as mesmas estratégias que buscam validar o antiesquerdismo doentio de seus editores neocons travestidas de 'verdades científicas'; 'jornalismo de isenção' e outras inverdades que a grande mídia neoconservadora deseja incutir na mente dos leitores.

Pergunto-me como o professor Romano, Villa e Schwartzman ainda se prestam a falar para Veja. Não está suficientemente claro para esses intelectuais que esta revista símbolo do anti-jornalismo buscará encaixar as opiniões acadêmicas (sempre retirando-as de seus contextos) para legitimar a caçada de Veja
contra tudo o que se opõe ao seu projeto ‘arremedo de liberalismo’?

Dentre tantas bobagens, repletas de juízos de valor, tão ideologizadas quanto a crítica que Veja pretende fazer a seus opositores, destaco um trecho no qual a revista acusa os professores brasileiros de idolatrarem figuras que, segundo ela, não trouxeram nenhuma contribuição significativa ao país e/ou humanidade:

"Ou idolatram personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores brasileiros ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa que talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado."

Como levar a sério uma revista que tem a pretensão de qualificar pejorativamente de 'arcano' um dos pensadores mais significativos do século XX , cujas contribuições para a filosofia da educação são reconhecidas entre seus pares no mundo todo?

Como levar a sério um periódico que obriga seus leitores a escolherem (sob pena de serem taxados de ultrapassados e equivocados) entre um educador e um físico teórico e que, excetuando o que a revista denomina de 'civilização ocidental', não reconhece humanidade no resto do planeta?

Como levar a sério uma revista que sequer se dá ao trabalho de conhecer a vasta produção de Paulo Freire e a reduz a 'um método de doutrinação esquerdista'?

Freire afirma que a pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora é feita de dois momentos distintos: o primeiro, 'em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação'. E o pensador complementava que em qualquer um destes momentos, fosse nos trabalhos educativos como parte do processo de organização dos oprimidos ou na educação sistemática como projeto político educacional de uma sociedade revolucionária, 'será sempre a ação profunda, através da qual se enfrentará, culturalmente, a cultura da dominação". (FREIRE, 1968: 44)

Não podemos afirmar que uma revista tão desinformada e capaz de subverter tanto os fatos e valores é um representante genuíno da ‘cultura de dominação’ da qual falava Freire e diante da qual os educadores comprometidos com a transformação da realidade opressora deveriam se opor. Veja não pode ser associada à cultura de espécie alguma, nem mesmo à dominante, pois o que esta revista produz é lixo cultural.

Veja sequer tem um pensador conservador à altura capaz de debater com um pensamento de esquerda do naipe da produção de Paulo Freire. Esse arremedo de revista nem é original em suas acusações a Freire: repete as mesmas falas dos ditadores e censores do período militar dirigidas ao educador libertário, reproduz a mesma ladainha preconceituosa contra a pedagogia freiriana que recentemente alguns procuradores ultraconservadores do MP-gaúcho que desejavam criminalizar o MST produziram. Veja só se dá ao trabalho de papagaiar tudo que existe de mais retrógrado no país, incluindo aí o jornalismo kameliano.

Não há debate no mundo de Veja, não há conflitos de interesses e projetos políticos que se opõem. Em Veja existe o dicotômico e tedioso mundo do ‘bem contra o mal’, do ‘liberalismo estereotipado versus o esquerdismo estereotipado’, do Brasil ‘ame ou deixe-o’, dos ‘cristãos versus os infiéis’. O mundo de Veja é um binômio irreal, sem graça e sem importância no qual somos obrigados a escolher entre a filosofia da educação de Paulo Freire e teoria da relatividade de Albert Einstein. Não podemos buscar conhecer as diferentes contribuições destes dois importantes homens do século XX.

Talvez seja por isso que ao comemorar 40 anos, Pedagogia do Oprimido segue viva e original estimulando historiadores e educadores a refletirem sobre as contribuições e os limites da extensa e rica produção freiriana e Veja (que também faz quarenta anos) no máximo servirá aos historiadores interessados em pesquisar a capacidade de degradação de um veículo de comunicação: ao longo de quatro décadas quais diferenças existem entre a época áurea sob direção de Mino Carta e a era dos bobos da corte feito os Reinaldos e Mainardis, arremedos mal feitos dos neocons? Quem tiver paciência que faça a análise.

O que é patente aos leitores críticos que Paulo Freire ajudou a formar é que na atualidade Veja não faz jornalismo, ela arroga a si o direito de julgar produções, personalidades, projetos, políticas públicas e insiste em nos enfiar goela abaixo a sua visão pobre e restrita e deturpada do mundo.

Veja tal qual os velhos senhores feudais encastelados que dominavam o governo, o poder de legislar e o poder de Justiça em suas possessões, sequer chegou ao século XIX onde ela julga estarem estagnados os professores que critica. A revista parou na Idade das Trevas seja qual for esse tempo-espaço (façam suas escolhas, qualquer um serve, desde que tenha sido uma era de truculência, intolerância e sectarismo bem ao estilo Veja - inquisição moderna, o terror, a ditadura, o fascismo, o nazismo, o macarthismo ou a era Bush de Guantânamo e Abugrai).

O que Veja ainda não descobriu é que os professores, proprietários de escolas e pais cada dia mais sabem distinguir o jornalismo medieval do estilo Veja do bom jornalismo produzido por profissionais menos subservientes e ignorantes. Veja precisa entender que quarenta anos de Pedagogia do Oprimido fez diferença positiva em nosso país, que grande parte da população pouco a pouco briga por sua cidadania, pelo direito de pensar, opinar, refletir e se recusa a permanecer na Idade das Trevas sob a batuta do tribunal arrogante de Veja. Pais e professores cada vez mais abrem mão, de bom grado, do jornalismo medieval produzido por Veja..


Nota do blogueiro:


O ensino foi triturado pelos coturnos de 64, a idéia básica era retirar das salas de aula toda a análise política, histórica, filosófica e sociológica. O ensino se encaminhou para um perigoso viés tecnicista, formando seres incapazes de pensar a sua realidade, mas totalmente afinados com a ideologia vigente.
As criminosas reformas de 1968, desestruturaram o processo educacional de tal forma que agora, em 2008 estamos conseguindo nos livrar das consequêcias desses atos.
A tresloucada matéria do panfleto Veja, caminha numa direção semelhante a do ,não tão distante 1968. Ao comparar duas ciências totalmente distintas como a física e a filosofia, como foi feito na matéria citada, o panfleto se coloca na posição de júri, daquilo que importa e do que não interessa ao meio "veja de vida", que obviamente, é o reflexo do "pensamento ocidental".


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Diário Gauche: "Dono da rua" morre na frente da Prefeitura de Porto Alegre

Diário Gauche:


Era o Zé

Policiais davam instruções precisas para uma dupla de garis. A ordem era limpar rapidamente a calçada, destacada por um cordão de isolamento colorido e bem esticado. A limpeza era o arremate do trabalho. Quem chegou primeiro já havia levado a informação maior, e de história concreta sobrava apenas um boné encardido, no canto de uma pilastra.

-“Morreu de frio”, disse o gari que varria a poeira dolorida do chão. Disse para si mesmo, já que o amontoado de pessoas que passava ignorava o fato e também o gari.

-“Foi um morador de rua que faleceu?”, perguntei.

-“É”, respondeu o policial constrangido. A expressão da face não dizia se o constrangimento era por atrapalhar o trânsito dos pedestres, ou por achar que a culpa também era sua.

Do outro lado da rua, um homem com sua sacola de latas nas costas olhava a esquina vazia. Invisível, disse para o vento: “Era o Zé”.

Isto aconteceu hoje, dia 19/08/2008, às 09h20 da manhã. O Zé morreu embaixo da marquise do Banco do Brasil, defronte ao Paço Municipal de Porto Alegre.

Ninguém viu.

Texto-depoimento de Thais Fernandes, 24 anos, jornalista.

A fotografia é meramente ilustrativa, não diz respeito ao fato ocorrido, hoje.

Nota do blogueiro:

De acordo com a matéria do jornalão da RBS de sábado, seria menos um estorvo nos caminhos do consumo? No caminho de "gente de bem"? Alguns membros de nossa produtiva elite não terão de levantar os pezinhos para passar por cima desse "Zé".

Mas quantos ainda faltam para que a voz dos privilegiados (Zero Hora) não tenha de reclamar de sua indesejada presença nas ruas?

Ainda as algemas.



Será que a exemplo da Polícia Federal, as policias militares dos estados receberão um "manual para disciplinar o uso de algemas"? Ou será que o tipo de público que elas atingem não merece esse tipo de "indulgência"?

"Perseguimos, torturamos, matamos, esquartejamos e ocultamos os cadáveres. Agora queremos indenização."


Mais uma do Recruta Zero, Nelson Jobim. Depois de sozinho, dar por encerrada a discussão sobre possíveis julgamentos de torturadores e assassinos da última ditadura, agora prega indenizações por danos psiquicos causados a militares durante o massacre do Araguaia.

Danos psicológicos, se houveram, causados por quem? Por quem organizou um movimento de resistência a um regime ilegítimo, ou para esse que organizou uma das maiores operações militares da História do país, com o intuito de destruir a qualquer custo com essa militância?

Se houver algum fundamento nessa tresloucada manifestação do único ministro do governo que gosta de se travestir de soldado, está no fato de que ela admite a existência de um crime. Que danos teriam sofrido esses militares? Seriam fruto dasoperações de perseguição, captura, tortura, assassinato, do esquartejamento e da ocultação dos cadáveres de militantes? Seriam fruto de tal crime?

Que o Recruta Jobim adora os holofotes, todos sabem, mas precisava ser tão ridiculo? Quem sabe na próxima ele pede indenizações para os ditadores por perseguição, calúnia ou difamação de todos aqueles que os acusaram de crimes contra a humanidade? Claro que para tanto teria de usar um daqueles narizes vermelhos de plástico, que combinam muito com essas manifestações.

Na foto, guerrilheiros mortos pelo Exército no Araguaia. Muitos após terem se rendido.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Deu no Dialógico

Sobre transgênicos

Recebemos o boletim
nº 406 da AS-PTA "Por um Brasil livre de transgênicos" e lemos o seguinte:

O jornal gaúcho Zero Hora divulgou recentemente que a Monsanto aumentou em 16,67% o valor da taxa que cobrará dos agricultores que plantarem suas sementes transgênicas Roundup Ready na safra 2008/2009.

Segundo o Zero Hora, "Após dois anos de congelamento, os royalties cobrados pela multinacional Monsanto, detentora da tecnologia Roundup Ready (RR), subiram de R$ 0,30 para R$ 0,35 por quilo na compra de semente certificada".

Entidades como a Fetag e a Farsul, que historicamente defenderam a liberação da soja transgênica, criticaram o aumento do custo e o fato de ele ter sido decidido sem conversas com o setor.

Para os produtores que usarem sementes próprias, será cobrada uma taxa de 2% sobre o valor da saca de grão vendida, conforme informou a Abrasem - Associação Brasileira dos Produtores de Sementes. A cobrança representa uma indenização à Monsanto por parte dos produtores por terem usado indevidamente sua tecnologia patenteada, ou seja, por terem multiplicado sementes.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag) afirmou que "O repasse destes custos dificultará o plantio".

A Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul) estima que nesta safra 40% da área de soja no estado será plantada com semente certificada. Se considerarmos que toda essa área será transgênica, a Monsanto recolherá mais de R$ 28 milhões em royalties sobre as sementes, já aplicando o novo valor.

O aumento do valor do royalty puxará para cima também o preço da semente, que deve ficar entre R$ 1,50 e R$ 2,0/kg.

Se o restante da área de soja no Rio Grande do Sul for plantado com semente transgênica produzida pelos agricultores e produzir em média 2.400 kg/ha, a Monsanto recolherá cerca de R$ 86 milhões de indenização pelo uso das suas sementes, considerando R$ 45 a saca de 60 kg de soja. Somado a isso, o preço dos fertilizantes não pára de subir e já dobrou em um ano.

No atual cenário de crise dos alimentos, aquecimento global e fim do petróleo, o atual sistema agroalimentar deve ser urgentemente repensado.

Tanto o setor das sementes como o dos fertilizantes são altamente concentrados e transnacionalizados. Monsanto, Syngenta, Cargill, Bunge e outras poucas capitalizam lucros recordes com este cenário de crise.

Enquanto lideranças dos produtores ficarem negociando qual porcentagem de royalty é a mais "justa", os agricultores continuarão assumindo riscos cada vez maiores e sem atacar as raízes do problema.
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Apesar de não lemos a ZMentira, acreditamos que a notícia citada no boletim estava escondida no meio do jornal, sem chamada de capa e sem problematização. O seu Sirotsky permitiu a sua publicação, seguindo a lógica de que não se pode mentir, escamotear, dissimular a realidade o tempo inteiro, pois uma empresa privada de mídia necessita manter certa credibilidade frente ao seu público, senão vai à bancarrota pela queda da venda de seu produto.
Arte: "Transgênico 1" de Eugênio Neves

Texto extraído do blog Dialógico.

Nota do blogueiro:

Muitas vezes o tema dos royalties, foi levantado quando o latifúndio contrabandeou sementes transgênicas, plantaram contra a Lei Brasileira, e forçaram o Governo a liberar o seu comércio. Especialistas afirmava que os produtores seriam reféns das transnacionais que detém as patentes dessas sementes.

Será que ainda mantém o discurso, de que essas declarações eram alarmistas, de ambientalistas que se opunham ao progresso?